Três dias de luto e uma vala comum
Há dias, uma traineira de pesca, com menos de trinta metros de comprimento, largou das costas da Líbia com cerca de 750 pessoas amontoadas a bordo. Nenhuma delas com direito a cabine individual, mesa posta para o jantar ou lugar privilegiado debruçado da amurada. Poderia ser um curto passeio à vista da praia, mirando os banhistas expostos ao sol ou ansiando pelo encontro fortuito com uma irrequieta colónia de golfinhos. Não era.
Aventurou-se
o barquito à travessia do mediterrâneo como se demandasse terras da Índia, à
procura da pimenta e do cravinho. Apenas esperando por uma praia deserta nas
costas da Europa, onde todos pudessem desembarcar como se chegassem ao paraíso,
as manhãs fossem menos frias e restasse um pão seco recusado por qualquer mesa
farta. O barco não resistiu a qualquer onda de estibordo e naufragou.
As costas da Grécia estavam a menos de cem quilómetros e as autoridades resgataram com vida 100 passageiros. Nenhum tem nome e, dos outros 650 não se sabe também nem o género, nem a idade, as habilitações ou o partido em que votariam se fossem eleitores inscritos e não se abstivessem. Oficialmente foram decretados três dias de luto e mandadas abrir valas onde todos possam finalmente repousar. Sem paraíso. E está o problema resolvido.
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