Dia internacional da criança
Ainda ontem, não sei em quantos lugares do mundo, muitos milhares de pessoas se deslocaram a estádios onde se realizaram encontros de futebol, adquiriram os seus bilhetes de ingresso, ocuparam os seus lugares e assistiram a partidas com que se emocionaram, exultando de alegria ou cedendo à frustração. Muitos milhões de pessoas pelo mundo fora se sentaram confortavelmente em frente a um televisor, foram saboreando uma bebida e debicando aperitivos enquanto assistiam aos mesmos espectáculos. Muitos milhões de pessoas se sentaram confortavelmente a uma mesa posta, saborearam as suas suculentas refeições, conviveram durante o serão e acabaram por repousar em leitos confortáveis, com camas a cheirar ao fresco da roupa lavada.
Ainda
ontem e todos os dias, não sei em quantos lugares do mundo, muitos milhares de
crianças não tiveram um brinquedo, não assistiram a espectáculo nenhum,
emocionaram-se naturalmente sem terem consciência disso, riram e choraram sem
saberem porquê, a vida foi-lhes oferecida como uma fatalidade. Sentaram-se no
chão quando foi caso disso, não tiveram um copo de leite para o dejejum, uma
sopa para o almoço, um pão para o lanche, uma mesa a que se sentassem, uma
refeição que lhes assegurasse o crescimento normal. O convívio foi-lhes tão
natural como a desgraça, como a ignorância, como a falta de cuidados de
assistência, do agasalho ou do abrigo que as protegesse das inclemências do
tempo. Não tiveram um leito e não sabem o que seja o conforto mínimo de uma
enxerga, o restolho de um colchão humilde, cheio com a palha vazia das espigas
de milho.
Não sabem essas crianças de nada disso, não têm consciência nem da fome, nem da falta de assistência, nem da falta de escolas. Mas, muito facilmente, o sabemos nós, sem necessidade de grandes estudos, sem o apelo à complexidade da ciência, sem a mobilização dos grandes cérebros que planificam a paz, a concórdia e a abastança. E sabemo-lo todos os dias. E, com facilidade, sabemos ainda que não é por falta de recursos que isso acontece. Sabemos que um pequeno contributo dos mais afortunados pode eliminar essa vergonha universal. Sabemos que a inutilidade de todas as guerras e de todas as balas pode ser transformada em pão, em vacinas e em escolas.
Hoje
alguns países assinalam o dia internacional da criança. Então lembremo-nos
delas todos os dias. Então juntemos recursos, então orgulhemo-nos daquilo a que
chamamos civilização. Por todas as crianças que o não são, porque todos
impedimos que o sejam.
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