A favor de todos os animais
Ontem, em Lisboa, a praça Marquês de Pombal encheu-se de gente a manifestar-se a favor da criminalização dos maus tratos a animais. Sempre fui sensível à causa, acho-a justa, sou solidário. E digo-o com a propriedade de quem, há dezenas de anos, derramou grossas lágrimas por, de forma ignorante, ter exposto ao sol e à morte um grilo, com uma folha de alface, dentro de uma lata vazia de graxa para sapatos. Portanto, até aqui, nem a mínima hesitação, nenhuma dúvida.
Entendo
que o planeta deva ser partilhado de forma mais justa e fraterna, respeitando o
direito à vida de todas as espécies animais, enquanto não for possível abarcar
as vegetais e eventualmente outras. A começar pela espécie humana que, como se
sabe, é racionalmente exemplar. Não há memória de que se tenha agredido ou se
tenha ferido de morte, seja por que razão for, fosse quando fosse. Mas, por favor, não se esqueçam
do elefante, imponente paquiderme, a que continuam roubando os dentes para o
fabrico de adereços. Tão pouco da vaca, que saboreiam à posta, acompanhada de
grelos e de batatas a murro e cujo couro aproveitam para não andar de calças na
mão. Ou da galinha, vulgarmente considerada tonta, que gulosamente levam à mesa
em arroz de pica no chão, dando estalidos com a língua. E, já agora, da
minúscula e maliciosa pulga, que vos incomodou o sono e cuja vida esmagam
contra a unha de um dedo polegar.
Depois, mais tarde, quando os dias forem maiores e tiver chegado o solstício de Verão, atentem na nossa espécie e dediquem-lhe cinco minutos de atenção. Invoquem as crianças, as mulheres, os homens, os mais desprotegidos que diariamente são agredidos nos mais esconsos cantos do globo e são sujeitos aos mais variados tipos de violência, a começar pela física. E são mantidos sob trabalho forçado, sem alimento, sem agasalho, sem protecção na doença, sem educação, sem nada. E convirjam para o praça do Marquês de Pombal. Eu já vou a caminho, para nos encontrarmos lá. Para lutarmos pela criminalização disso tudo e para a garantirmos.
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