5 de março de 2006

Avenida dos Aliados

Esta manhã, sendo domingo e sabendo não ser dia de eleições, certificando-me de que os automóveis da vereação não estavam estacionados nas traseiras do edifício dos Paços do Concelho e que o gabinete do munícipe se encontrava encerrado para o descanso semanal dos funcionários, cheguei à brilhante conclusão de que também o Dr. Rio não estaria sentado à sua secretária, assinando posturas, autorizando ajudas de custo, promulgando transparentes resultados de concursos públicos. Embora soubesse e saiba, como toda a gente, que o Dr Rio não dorme, que por um momento não descura a defesa dos superiores interesses dos seus concidadãos - e dos seus próprios, já agora! - e que algures, entre uma coluna do Jornal de Notícias e um velho cimbalino à maneira, seguramente se mantém atento e vigilante sob a divina protecção do Sr Bispo do Porto e do Sr Abade de Santo Ildefonso.

E aproveitando o tempo fresco e soalheiro resolvi percorrer aquilo a que antigamente chamaram a Avenida dos Aliados e mentes mais malignas chegaram a apelidar de avenida do bacalhau, quando este era o fiel amigo e se comprava ao conveniente preço da uva mijona na Casa Natal e na Mercearia Chinesa, aqui por absoluto contra-senso. Regressei parcialmente reconciliado com aquilo que doravante deveria passar a chamar-se o Estaleiro Municipal Dr Rui Rio e temente pelos resultados inglórios dos esforços gigantescos que a minha amiga Manuela Ramos - desculpe-me ela o abuso da familiaridade, que nem a conheço pessoalmente! - tem desenvolvido em defesa daquilo que era um simbólico cartão de visita da invicta.

Para começar há muita coisa que está na mesma. Uma tabuleta toponímica, desenhada ao que parece por um dos rebentos do Dr Rio durante um fim de semana em Moledo do Minho, assinala a Praça General Humberto Delgado, político, e elucida o incauto visitante: antiga Praça do Município, omitindo por lapso juvenil e ignorância saloia que essa designação era para aí do tempo do Infante D. Henrique. E, já agora, não deixa dúvidas de que o general como militar não terá ido além de cabo, mas que foi político. Embora se não saiba onde e se lhe desconheça a obra. Mas isso também acontece com vereadores, presidentes de câmaras, deputados e até santanas lopes. O Sr Almeida Garrett mantém-se também no mesmo sítio, voltando o cu à Câmara e ao presidente, devidamente emporcalhado pelos anos e cagado pelas pombas.

A menina nua jaz no meio dos destroços e do lixo, sombria e triste, empoleirada num suporte que a Câmara, sem concurso, mandou adquirir na loja dos trezentos que fica em frente. Está rodeada de grades e barrotes, perdeu a alvura da pele e a robustez maternal das coxas, adquiriu o ar pensativo e vão de que casamento já não é para ela. Ao fundo a estátua e o cavalo persistem também em fazer como o Sr Garrett, virando o cu à Câmara e à vereação, o que certamente virá a inspirar um qualquer comentário do Dr Paulo Portas na Sic Notícias ou um post jocoso do Doutor - assim é que deve ser, o respeito é muito bonito! - Vital Moreira no blogue Causa Nossa. Com fotografia e tudo, caso ele traga a Nikon digital consigo quando vier ao Porto para os filetes de pescada na Casa Aleixo.

Ao fundo, em frente ao Passeio das Cardosas, pujante e de uma brancura à prova de detergentes e de arquitectos, está em flor uma magnólia branca. Enquanto ao lado, mais maneira, uma de cor rosa ameaça desabrochar, indiferente ao granito do piso e das mentes preversas dos engenheiros. Que quanto a pedra acho estarmos conversados, e até demais. A única de que dei por falta, sinceramente, foi apenas a das cabeças duras do presidente da câmara e dos arquitectos do projecto. Mas como hoje é dia de descanso é melhor nem os incomodar!