14 de janeiro de 2024

Um grito contra a parede

Desde que o Presidente da República anunciou a dissolução da Assembleia da República e a realização de eleições legislativas em 10 de Março próximo, o país entrou em campanha eleitoral. Isto mesmo que ainda se não conheçam as listas de candidatos a deputados e que a campanha oficial decorra apenas entre 25 de Fevereiro e 8 de Março.

Daí decorre, de repente, a desonestidade generalizada dos partidos políticos, donos absolutos e ditatoriais da democracia, sem direito a concorrência ou a contraditório. De facto só eles e mais ninguém podem apresentar candidatos aos 230 lugares de deputados. Que para já e em relação às próximas eleições de 10 de Março deverão ser apresentadas até 29 de Janeiro corrente. Portanto, para já, a campanha faz-se em relação a partidos políticos e não a candidatos que se não conhecem.

Tal facto fere de morte a Declaração Universal dos Direitos Humanos que no seu artigo primeiro proclama: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.” Livres, mas não tanto que possam candidatar-se a deputados. Iguais, mas não tanto que possam ter uma habitação condigna, com tecto, água e electricidade como o mais ignorado e ignorante deputado da nação.

Os partidos políticos deveriam ser organizações cívicas cujos membros se disponibilizam para o serviço público prestado à comunidade para onde, obviamente, são selecionados os mais capazes e os mais sabedores. Não são! São agências de emprego, grupos de interesses, quadrilhas suportadas pelo orçamento do estado ou, como gostam de dizer em circunstâncias que lhes são mais favoráveis, pelos contribuintes. À revelia dos contribuintes.

Os partidos políticos deveriam ter um projecto para o país, no que diz respeito à saúde, ao ensino, à segurança, ao bem comum. Não têm! O seu projecto é correr com quem está no poder e ocupar o seu lugar, eliminar adversários, denegrir opositores, difamar-lhes a família e o círculo de amigos e correligionários, chafurdar na mesma manjedoura. Deveriam ser responsáveis e responsabilizados, por aquilo que prometem, por aquilo que fazem e por aquilo que deixam de fazer. Não são ou, na sua própria e vazia expressão, são responsabilizados politicamente nas urnas em próximos actos eleitorais, o que significa tomar a parte pelo todo em qualquer momento futuro. A responsabilidade deve ser cível e criminal, se for caso disso e deve afectar candidaturas e mandatos. Os representantes populares devem estar acima de todas as dúvidas e de todas as suspeitas e isso nada tem a ver com a presunção de inocência que, de facto, é devida a todos os suspeitos até que haja sentenças condenatórias transitadas em julgado.

Mas a que vamos assistindo diariamente nos órgãos da comunicação social? Ao discurso da intolerância e do ódio, com o beneplácito e a cumplicidade alarve dos jornalistas – com muito poucas e isoladas excepções – que promovem a ascensão dos cabecilhas das quadrilhas, sempre com espírito de confronto, como se o entendimento não existisse e não fosse de considerar para coisa nenhuma. E a isso chamam competitividade seja no que for, sendo que ser competitivo é, linearmente e em qualquer circunstância, fazer mais e fazer melhor.

E assim lá vai cantando e rindo a geração mais e melhor preparada de sempre, subindo à custa da cunha e do esquema, quando não da comissão e das transferências para as contas “offshore” e das mordomias nas estâncias milionárias dos emiratos. Sem saber ler nem escrever e julgando-se ser a única e exclusiva detentora da verdade absoluta e irrevogável. Para quando termos princípios, respeitarmos valores, sermos velhos do Restelo? Assumirmos a descendência de Egas Moniz? Sem necessidade da corda ao pescoço!

 


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