13 de novembro de 2003

Está tudo nos conformes!

Mais uma segunda-feira, mais um início de semana. Com o tempo mais macio, mais brando, mesmo que as previsões registem ainda a possibilidade de alguma borrasca. Lentamente, mas implacável, o outono corre ao encontro do inverno. Iremos, como todos os anos, encontrar-nos com ambos às portas do Natal.

Tudo normal e nos conformes, sem perturbações. Como decorre do principal título da primeira página do jornal Público: Fiscalização detecta milhares de irregularidades na construção civil. Não há, naturalmente, motivo para preocupações. A normalidade continua assegurada, a empresa portuguesa pode não ter dimensão galáctica mas sobra-lhe imaginação e capacidade para se desenrascar. O Dr Sampaio pode interrogar-se sobre as razões porque se não ganham concursos em Espanha. O que é verdade mas que, apesar de tudo, não é essencial nem para a sobrevivência nem para a rentabilidade do sector.

Já houve melhores dias, mas os que correm podiam ser piores. O empresário português, nomeadamente o da construção civil, consegue milagres. Mesmo tendo ordenados sofríveis e deslocando-se em vulgares Mercedes. Consegue receitas sem suportar nenhumas despesas, sem que a ministra das finanças, sensatamente, lhe peça conselho. E opte, em contrapartida, por andar por aí a vender trastes que não valem coisa nenhuma, para equilibrar o orçamento. O empresário português tem mais preocupações sociais do que o Estado e paga à segurança social as contribuições de empregados que não tem. Desinteressadamente, apenas por causa do alvará. Que ainda por cima, depois, não utiliza: ou o aluga, ou o vende.

Mesmo pequeno e de poucas posses o empresário português é solidário logo desde início. E por isso joga no totoloto e nas lotarias da Páscoa e do Natal, para ajudar a Santa Casa. Quando os negócios lhe correm de feição, não é nem egoísta, nem ganancioso, nem semítico. Não quer tudo para si. Alarga o seu leque de solidariedade e passa a jogar também nos casinos, às vezes compulsivamente, para ajudar o Sr Stanley Ho e o Sr Manuel Violas. E a frequentar os jantares e as festas de beneficência que se organizam nesses locais, onde cada participação se paga a cinquenta contos e, no fim, se fazem doacções de vinte, para acudir à fome dos pretinhos sub-alimentados do corno de África.

E com que dividendos? Garantidamente, sem nenhuns. Quando muito cruzar-se com o Sr Manuel Damásio e obter um sorriso distante e superior da D. Lili Caneças, que se calhar nem sequer lhe é dirigido.

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