13 de novembro de 2003

A greve dos revisores da CP

Ao que parece, têm ocorrido desde há muito tempo, e desde há pouco também, situações de violência nos comboios da linha de Sintra. Isto a avaliar por aquilo que alguns jornais têm dito e algumas testemunhas oculares têm também afirmado.

Como protesto contra a situação os revisores da CP, que é a companhia dona dos comboios, decidiram fazer hoje uma greve parcial, até porque um significativo número das vítimas faz parte do conjunto dos seus membros. A greve é um meio de luta particularmente indicado nestas circunstâncias, por diversos motivos. Desde logo porque aderindo à greve e não indo trabalhar, os revisores-grevistas não poderão ser agredidos no exercício da sua actividade, por estarem ausentes. Depois, se não houver comboios a circular, ainda por cima sem revisores, que raio de composições ferroviárias vão os trogloditas assaltar? Têm de ir cantar para outra freguesia porque este peditório não rende. E ainda! Não havendo comboios que meio de transporte vão os assaltantes utilizar? Vão a pé? Isso é que era bom, que aquilo é malta comodista, mesmo não pagando bilhete.

Por estranho que pareça, toda a gente está de acordo sobre os fundamentos essenciais da greve. Os revisores da CP, uma dita comissão de utilizadores da linha e até a própria companhia que, com a mão escondida atrás das costas, encara esta greve de forma complacente, embora discordando de algumas posições do respectivo sindicato. Para ao menos proteger as aparências e continuar a garantir o subsídio do Estado.

A CP não emite comunicados escritos, que caíram em desuso com as dificuldades que há para os redigir. Mesmo que entre as rigorosas exigências para se ser admitido nos seus quadros, entre outras, seja indispensável a aprovação na cadeira de português e a leitura, completa, do regulamento do Big Brother e do currículo da senhora ministra do ensino superior.

Mas manda um porta-voz, que se esquiva a montes de tripés e tropeça em inúmeros cabos ensarilhados antes de trepar a um pequeno estrado, de equilíbrio instável, para o seu momento de glória. E perfilar-se à frente de uma dúzia de microfones, decorados com o logotipo da emissora da sua preferência, e de meia dúzia de câmaras para prestar os esclarecimentos que forem necessários. Cometendo, em termos de linguagem, a habitual série de atropelos e proferindo um interminável conjunto de asneiras, como fazem aquelas meninas e meninos que as televisões mandam para os locais das tragédias para fazerem reportagem. E que ainda hoje penso terão contribuído activamente para encurtarem a vida do saudoso Fernando Pessa!

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