A Câmara do Porto e o caso do coveiro de Agramonte
O título deste "post", seguramente, faria as delícias de Agatha Christie e acrescentar-lhe-ia ainda mais uns louros à glória e uns trocados à fortuna. Com pesar meu já ela partiu para morar num sítio que espero mais ajardinado do que Agramonte mas onde creio que serão poucas as probabilidades de conviver com situações tão inspiradoras como esta. Deixo a sugestão ao Francisco - parece que andámos na escola juntos! - que também se interessa pela matéria, penso que com menor proveito mas igual fama. E fica-lhe a ele, ainda, a vantagem de conhecer travessas, ruas, largos e ambientes mesmo que tenha assentado arraiais pelo Sul, etc e tal e coisa porque o resto da lenga-lenga já o autarca Menezes o ensinou em livro exposto nos escaparates.
O caso, ao que parece, passou-se assim. É época de inverno, até no Porto, porque o frio também chega à província, apesar do progresso e da melhoria das condições de vida dos accionistas do Continente. Depois, indicador irrebatível do progresso da cidade, morre-se muito menos no Porto. A mortalidade infantil tende para níveis a que todos gostaríamos de fixar a inflacção. As pessoas não fazem filhos, ficam-se até tarde a ver a televisão do Dr Sarmento e, como se isso não bastasse, ainda usam preservativos, pílulas e aloquetes a proteger os tesouros dos eventuais assaltos do Ali Bábá e dos seus quarenta ladrões. Nos outros escalões etários o índice de mortalidade tende igualmente para zero, como os aumentos salariais que a ministra das finanças, há dois anos e com muito sacrifício, tem oferecido à função pública. De facto quase não se morre: a cidade está despovoada e ninguém quer ocupar as casas que o Dr Rio tem para alugar, por terem rendas altas.
No inverno, com frio e sem mortos para enterrar, um coveiro, por mais dedicado que seja, está subaproveitado, apercebe-se disso e da necessidade de aumentar a produtividade, deprime-se e enregela. Foi o caso deste que assim chegou ao ponto de já nem sentir os dedos dos pés, ver tolhidos os das mãos e temer pela sua capacidade para trabalhar, se por acaso chegasse algum freguês. Vai daí, foi a uma taberna que ainda sobrevive nas proximidades e comprou uma garrafita de bagaço caseiro, de vinho verde, vindo directamente de Famalicão. Mesmo pela garrafa, bebeu uns poucos goles, para aquecer. Poucos sim, alguns um bocado longos, quase perdia o fôlego é certo, mas poucos. Não estava habituado, subiu-lhe à cabeça, começou a ter vontade de entrar na auto-estrada ao contrário como daqui a pouco faz toda a gente.
Teve azar! Quando já mexia os dedos da mão e o dedo grande do pé direito se lhe animava, surgiu o vereador do pelouro, que não consegui saber se era ou não o engenheiro Gaspar. O homem sentia-se melhor mas nem se levantou, não o conseguiu. Um desrespeito, uma afronta, uma pouca vergonha. O vereador regressou ao seu gabinete, chamou um dos assessores que ainda era capaz de escrever português que se entendesse, incumbiu-o de fazer a participação. Levantou-se um processo disciplinar e fez-se com que este corresse os seus termos normais. Sempre dentro da legalidade, porque a Câmara do Porto pode extorquir os patacos aos munícipes nos parcómetros, mas respeita e venera a legalidade.
Agora o executivo da Câmara vem-se ocupando da punição do coveiro há pelo menos meia dúzia de sessões, duas das quais extraordinárias e ao fim de semana. A questão é complexa, fosse ela simples o as capacidades do vereador teriam chegado para subscrever a punição e o despacho. Mas não! E o assunto subiu a plenário, como se diz em linguagem de manga de alpaca. Pôs a cidade em sobressalto, as moradoras das ilhas trocam opiniões sobre o assunto enquanto estendem a roupa a secar. Ninguém comenta as expulsões que o Boavista sofreu no jogo da luz. Vejam bem, nem sequer o Dr Rio que confessadamente é adepto e sócio com cartão e quotas em dia. Suspensa, a cidade espera que uma decisão seja tomada hoje, para desagravo do vereador. E para castigo do infractor, a quem prometem arranjar mais trabalho e ocupar a tempo inteiro. Para aumentar a produtividade!
O caso, ao que parece, passou-se assim. É época de inverno, até no Porto, porque o frio também chega à província, apesar do progresso e da melhoria das condições de vida dos accionistas do Continente. Depois, indicador irrebatível do progresso da cidade, morre-se muito menos no Porto. A mortalidade infantil tende para níveis a que todos gostaríamos de fixar a inflacção. As pessoas não fazem filhos, ficam-se até tarde a ver a televisão do Dr Sarmento e, como se isso não bastasse, ainda usam preservativos, pílulas e aloquetes a proteger os tesouros dos eventuais assaltos do Ali Bábá e dos seus quarenta ladrões. Nos outros escalões etários o índice de mortalidade tende igualmente para zero, como os aumentos salariais que a ministra das finanças, há dois anos e com muito sacrifício, tem oferecido à função pública. De facto quase não se morre: a cidade está despovoada e ninguém quer ocupar as casas que o Dr Rio tem para alugar, por terem rendas altas.
No inverno, com frio e sem mortos para enterrar, um coveiro, por mais dedicado que seja, está subaproveitado, apercebe-se disso e da necessidade de aumentar a produtividade, deprime-se e enregela. Foi o caso deste que assim chegou ao ponto de já nem sentir os dedos dos pés, ver tolhidos os das mãos e temer pela sua capacidade para trabalhar, se por acaso chegasse algum freguês. Vai daí, foi a uma taberna que ainda sobrevive nas proximidades e comprou uma garrafita de bagaço caseiro, de vinho verde, vindo directamente de Famalicão. Mesmo pela garrafa, bebeu uns poucos goles, para aquecer. Poucos sim, alguns um bocado longos, quase perdia o fôlego é certo, mas poucos. Não estava habituado, subiu-lhe à cabeça, começou a ter vontade de entrar na auto-estrada ao contrário como daqui a pouco faz toda a gente.
Teve azar! Quando já mexia os dedos da mão e o dedo grande do pé direito se lhe animava, surgiu o vereador do pelouro, que não consegui saber se era ou não o engenheiro Gaspar. O homem sentia-se melhor mas nem se levantou, não o conseguiu. Um desrespeito, uma afronta, uma pouca vergonha. O vereador regressou ao seu gabinete, chamou um dos assessores que ainda era capaz de escrever português que se entendesse, incumbiu-o de fazer a participação. Levantou-se um processo disciplinar e fez-se com que este corresse os seus termos normais. Sempre dentro da legalidade, porque a Câmara do Porto pode extorquir os patacos aos munícipes nos parcómetros, mas respeita e venera a legalidade.
Agora o executivo da Câmara vem-se ocupando da punição do coveiro há pelo menos meia dúzia de sessões, duas das quais extraordinárias e ao fim de semana. A questão é complexa, fosse ela simples o as capacidades do vereador teriam chegado para subscrever a punição e o despacho. Mas não! E o assunto subiu a plenário, como se diz em linguagem de manga de alpaca. Pôs a cidade em sobressalto, as moradoras das ilhas trocam opiniões sobre o assunto enquanto estendem a roupa a secar. Ninguém comenta as expulsões que o Boavista sofreu no jogo da luz. Vejam bem, nem sequer o Dr Rio que confessadamente é adepto e sócio com cartão e quotas em dia. Suspensa, a cidade espera que uma decisão seja tomada hoje, para desagravo do vereador. E para castigo do infractor, a quem prometem arranjar mais trabalho e ocupar a tempo inteiro. Para aumentar a produtividade!
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