28 de janeiro de 2004

É a cultura, estúpido!

in Grande ReportagemOlhe doutor, estive quase tentado a tratá-lo assim mesmo, só por doutor, depois da trabalheira que me deu escrever o seu nome direito. É que eu sou à antiga, escrevo de papel e caneta de verdade, sempre que me engano amasso a folha, deito-a para o cesto e recomeço tudo de novo. E o seu nome é complicado, não é o Manuel Maria, é o apelido, o Carrilho, parecia-me haver sempre para ali uma perna a mais, muitas letras dobradas, sabe como é, a ileteracia. Mas cada vez que quase me decidia pela desistência lembrava-me daquela cena do Vasco Santana a dizer. "chapéus há muitos, seu palerma!" e ressaltava-me a analogia porque doutores também há muitos. Então persisti, gastei quase meia resma de papel, tive de encher duas vezes o depósito da caneta, ocorreu-me e visitei o seu sítio na internet. Graças a Deus! Ajudou-me muito!

Que sublime! É nestas coisas que de facto se reconhece, mesmo que parcialmente e por defeito, o nível cultural das pessoas e a exigência elementar em relação à decoração das casas de banho onde lavam as mãos, ajeitam os cabelos e arreiam as calças para sentarem o traseiro imaculado na sanita da Vista Alegre. Desde logo a elevação da mensagem de acolhimento, na primeira página: "não há nada pior que o catastrofismo que se segue a uma derrota - a não ser, talvez, o ilusionismo sobre as suas causas.". Só a palavra "catastrofismo" obrigou-me a ir ao dicionário três vezes, só encontrava catano e catarro, ainda agora vou a pé, de regresso a casa, a repeti-la continuamente, a ver se se me solta a língua e me não atrapalho quando a pronuncio. Sobre o ilusionismo percebo, já vi, tem a ver com aquelas coisas impossíveis que faz o Sr Luís de Matos que já uma vez, no velho Calhabé, pôs com um aperto de dedos o meu filho a deitar moedas de euro pelo nariz.

Sabe que, de malandrice, que eu posso ser meio analfabeto - cada vez me dizem mais: és como o país, não te preocupes! - mas não sou burro de todo, pedi ao meu filho, o mesmo, aquele das moedas de euro pelo nariz, e fomos pesquisar a internet para vermos o sítio do Dr Pedro Santana Lopes. Sabe o que encontrámos? Um sítio com uma página só escrita, nem uma fotografia, o texto mal arrumado, com o título escrito a vermelho - devia ser dirigido aos amigos dele! - a dizer: "Biografia (oficial) de Pedro Santana Lopes.". Assim mesmo: oficial! Ele devia ter era a coragem do doutor, andar de namoro com a D. Bárbara, assumir a relação, ir de braço dado com ela às festas da Operação Triunfo, casar-se, fazer-lhe um filho. Em público, à vista de toda a gente, menos essa de lhe fazer o filho, está bom de ver. Havia de ser bonito! Cada namoro, um filho. Cinco registados no registo civil, por causa do subsídio, sei lá eu quantos sem registo, mais os do estrangeiro, nas visitas de trabalho político, com passaporte diplomático. Aquilo é cada cavadela, cada minhoca! Logo pela data de nascimento: dia de S. Pedro! Então isso admite-se? São Pedro é santo da Afurada, nem do Porto! Em Lisboa tem que ser Santo António ou então não tem perfil. Aldrabe o registo, suborne o conservador, diga que a mãe se enganou nas contas, que a pai até estava para as campanhas de África há dois anos, mas trate de corrigir o bilhete de identidade.

Depois vem com aquela do povo esperar de um político obras e não filosofia. É parvo! Obras o povo espera dos construtores civis. Da filosofia não espera nada. Dos políticos, com sua licença doutor, o povo só espera merda! Mas o doutor digo-lhe, assim equipado como nessa fotografia que lhe mando para acrescentar ao seu sítio na internet, não tem rival. Um trolha bem vestido, com gravata ao pescoço e sapatos engraxados. Com educação e com estudos, que sabe falar seja com quem for, até com estrangeiros. Pode até ir ao biscate a casa da Dra Manuela Leite, para desentupir a pia e reparar a torneira do bidé. Vai olhar para si e não vai sequer ter o desplante de lhe perguntar se o doutor passa recibo. Um trolha assim, distinto. Era o que faltava!

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