27 de janeiro de 2004

Discretamente, sem mediatização excessiva

Fábio fez 13 anos na sexta-feira. Inês completaria 3 anos em Março. Filhos de uma família pobre de Adão-Lobo, Cadaval, os dois menores morreram no sábado, por intoxicação, quando tomavam banho em casa. As gentes do lugar estão de rastos. "Homens e mulheres, tudo chora".

Este é o sub-título do apontamento de Joaquim Eduardo Oliveira, publicado no jornal 24 Horas do dia 26 e intitulado: "Fuga de gás mata duas crianças em aldeia do Cadaval". Não houve directos nem câmaras à porta. Nenhum jornalista montou guarda, ao relento, durante a noite. Não me apercebi, até agora, da metralha das palavras e da iniquidade dos adjectivos. Segundo a notícia, uma professora primária percorreu no domingo todas as ruas do lugar, com um propósito de misericórdia: angariar fundos para o funeral de Fábio e de Inês.

Pessoalmente espero que esta devotada professora primária tenha atingido os seus objectivos. Não será certamente pela falta da mediatização que as crianças serão menos choradas e que o seu funeral terá menos dignidade. É preciso é saber destrinçar o trigo do joio e o essencial do acessório. O que, neste país, é quase sempre uma tarefa inatingível, muito mais complicada do que possa parecer.

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