Tardiamente: mas bem vindos a 2004!
Voltei! Bem vindos, todos, ao Placard 2004. Uma referência particular a estes dois amigos que tiveram a amabilidade de me deixar comentários a desejar, seguramente com muita ironia, um bom ano novo. Não foi por malcriadice que lhes não agradeci, foi apenas pela ausência.
Mas a verdade é que resolvi parar e refletir um pouco. Sobre o que nos deixou o ano que partiu e sobre o que podemos esperar daquele que chegou. Refletir, confesso-o, é uma das coisas que me cansa a mim tanto como ao país. Quase sempre, antes de começar, já estou completamente de rastos. Dizia-me a minha mãe, quando ainda se preocupava demasiado com aquilo que eu não fazia, que tinha nascido cansado. Era uma observação que me desgostava, e sinto-me quase meio realizado pelo facto de, com a idade, ter alterado a prioridade das suas preocupações. Não que eu sentisse a observação com uma crítica negativa, nada disso. Chocava-me sim era que fosse tão vulgar, como se nascer cansado fosse coisa rara.
Depois, deixa-me confessá-lo, fui também eu festejar não sei o quê, como a hiena da anedota do Juca Chaves. À meia noite em ponto estava encostado a um canto da sala, de costas voltadas, com medo de que se rissem de mim, a engolir doze passas e a desejar não sei quantas coisas boas que, afinal, me têm sido prometidas a mim e ao país desde já não sei bem quando. O melhor, digo-vos, acabou por ser a taça de espumante barato que a gente, em momentos solenes, promove invariavelmente a champanhe do Reims. Porque o álcool pode subir-nos à cabeça, distorcer-nos o raciocínio, embotar-nos os sentidos e fazer-nos câmara lenta dos reflexos. Mas eleva-nos a auto-estima, como eufemisticamente se diz nos dias que correm.
E fui a Fátima, pelo meio de um desgraçado dia de chuva miúda e de nevoeiro, que cheguei a pensar que nos ia devolver, logo no início do ano, o nosso saudoso D. Sebastião. Pelo caminho fui repetindo os impropérios habituais contra as selvajarias dos condutores de auto-estrada cujos acidentes, segundo as autoridades, se devem a excesso de velocidade e a excessivo álcool no sangue. Mas o que essencialmente eu vejo é que não sabem pura e simplesmente conduzir um automóvel. Há os que, a quarenta quilómetros por hora, circulam indistintamente em qualquer das faixas de rodagem, como se a auto-estrada fosse deles e não do Sr. José Manuel de Mello. E os que encostam tranquilamente à berma e sustentam as suas criancinhas numa posíção rídicula para que façam o seu chichi, aproveitando depois eles próprios para se arrimarem a um arbusto e contribuirem para a ferrugem das redes de vedação. Fui ainda repetindo um curto e delicioso poema do brasileiro Manuel Bandeira que não resisto a transcrever.
Pneumotórax
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três . . . trinta e três . . . trinta e três . . .
- Respire.
..................
- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
Sou um optimista, mesmo que o não pareça e que não queira que isso se saiba, não vá o Dr. Barroso continuar a agravar o IRS daqueles que trabalham, como aliás ele e os outros todos têm feito. E isto para dizer que, apesar de tudo, apesar do país ter uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado, ainda não é de todo necessário por a tocar o La cumparsita. Ainda podemos rezar! Fui-me às velas e comprei quatro, das maiores, que fui acender. Três pelo país e uma por mim, não vá um curar-se de todo e eu acabar vítima dessa cura. Posso não suportar emoções tão fortes!
Hoje, sábado, dia 3 de Janeiro, estou de regresso. Assisto ao telejornal e verifico que nem o fim de ano tirou a energia e a falta de senso à D. Judite de Sousa que convida pessoas que depois não deixa falar. Não soubesse eu que ela já era assim antes do casamento com o benfiquista - não é grande casamento, pois não? - Dr Seara e facilmente concluiria pela excessivo machismo deste. Mas, mais importante do que isso, constato que o país segue, tranquilo, inverno dentro, até que a primavera chegue e a hora mude. O problema do país é uma carta anónima que ninguém sabe quem escreveu e que, parece, se referia ao Dr Sampaio e ao Dr Vitorino, emigrante em Bruxelas. Para além disso era, e parece que ainda é, irrelevante. Mas está a por em causa a república, os orgãos de soberania, os governantes, os magistrados e os arguidos do processo da Casa Pia. O problema do país neste momento, depois de terminado o Big Brother e da D. Teresa Guilherme finalmente poder ir entregar-se nos braços do noivo, é saber se o procurador, Dr. João Guerra, devia por a carta no processo ou não. Porque se entende - coisa de muita ciência! - que num outro processo qualquer ela ainda seria muito mais irrelevante. Eu, por mim, reciclava-a. Mas não vos digo é como, que ainda se zangam ou me acham malcriado!
Mas a verdade é que resolvi parar e refletir um pouco. Sobre o que nos deixou o ano que partiu e sobre o que podemos esperar daquele que chegou. Refletir, confesso-o, é uma das coisas que me cansa a mim tanto como ao país. Quase sempre, antes de começar, já estou completamente de rastos. Dizia-me a minha mãe, quando ainda se preocupava demasiado com aquilo que eu não fazia, que tinha nascido cansado. Era uma observação que me desgostava, e sinto-me quase meio realizado pelo facto de, com a idade, ter alterado a prioridade das suas preocupações. Não que eu sentisse a observação com uma crítica negativa, nada disso. Chocava-me sim era que fosse tão vulgar, como se nascer cansado fosse coisa rara.
Depois, deixa-me confessá-lo, fui também eu festejar não sei o quê, como a hiena da anedota do Juca Chaves. À meia noite em ponto estava encostado a um canto da sala, de costas voltadas, com medo de que se rissem de mim, a engolir doze passas e a desejar não sei quantas coisas boas que, afinal, me têm sido prometidas a mim e ao país desde já não sei bem quando. O melhor, digo-vos, acabou por ser a taça de espumante barato que a gente, em momentos solenes, promove invariavelmente a champanhe do Reims. Porque o álcool pode subir-nos à cabeça, distorcer-nos o raciocínio, embotar-nos os sentidos e fazer-nos câmara lenta dos reflexos. Mas eleva-nos a auto-estima, como eufemisticamente se diz nos dias que correm.
E fui a Fátima, pelo meio de um desgraçado dia de chuva miúda e de nevoeiro, que cheguei a pensar que nos ia devolver, logo no início do ano, o nosso saudoso D. Sebastião. Pelo caminho fui repetindo os impropérios habituais contra as selvajarias dos condutores de auto-estrada cujos acidentes, segundo as autoridades, se devem a excesso de velocidade e a excessivo álcool no sangue. Mas o que essencialmente eu vejo é que não sabem pura e simplesmente conduzir um automóvel. Há os que, a quarenta quilómetros por hora, circulam indistintamente em qualquer das faixas de rodagem, como se a auto-estrada fosse deles e não do Sr. José Manuel de Mello. E os que encostam tranquilamente à berma e sustentam as suas criancinhas numa posíção rídicula para que façam o seu chichi, aproveitando depois eles próprios para se arrimarem a um arbusto e contribuirem para a ferrugem das redes de vedação. Fui ainda repetindo um curto e delicioso poema do brasileiro Manuel Bandeira que não resisto a transcrever.
Pneumotórax
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três . . . trinta e três . . . trinta e três . . .
- Respire.
..................
- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
Sou um optimista, mesmo que o não pareça e que não queira que isso se saiba, não vá o Dr. Barroso continuar a agravar o IRS daqueles que trabalham, como aliás ele e os outros todos têm feito. E isto para dizer que, apesar de tudo, apesar do país ter uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado, ainda não é de todo necessário por a tocar o La cumparsita. Ainda podemos rezar! Fui-me às velas e comprei quatro, das maiores, que fui acender. Três pelo país e uma por mim, não vá um curar-se de todo e eu acabar vítima dessa cura. Posso não suportar emoções tão fortes!
Hoje, sábado, dia 3 de Janeiro, estou de regresso. Assisto ao telejornal e verifico que nem o fim de ano tirou a energia e a falta de senso à D. Judite de Sousa que convida pessoas que depois não deixa falar. Não soubesse eu que ela já era assim antes do casamento com o benfiquista - não é grande casamento, pois não? - Dr Seara e facilmente concluiria pela excessivo machismo deste. Mas, mais importante do que isso, constato que o país segue, tranquilo, inverno dentro, até que a primavera chegue e a hora mude. O problema do país é uma carta anónima que ninguém sabe quem escreveu e que, parece, se referia ao Dr Sampaio e ao Dr Vitorino, emigrante em Bruxelas. Para além disso era, e parece que ainda é, irrelevante. Mas está a por em causa a república, os orgãos de soberania, os governantes, os magistrados e os arguidos do processo da Casa Pia. O problema do país neste momento, depois de terminado o Big Brother e da D. Teresa Guilherme finalmente poder ir entregar-se nos braços do noivo, é saber se o procurador, Dr. João Guerra, devia por a carta no processo ou não. Porque se entende - coisa de muita ciência! - que num outro processo qualquer ela ainda seria muito mais irrelevante. Eu, por mim, reciclava-a. Mas não vos digo é como, que ainda se zangam ou me acham malcriado!
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial