28 de dezembro de 2003

A título de esclarecimento, por causa das dúvidas

Tenho-me questionado publicamente, em alguns "posts" aqui inseridos, sobre as utilidades de um blogue. Desde meados de Outubro tenho publicado regularmente e percorrido um trajecto de principiante - que continuo a ser - no qual, tendo aprendido pouco, aprendi já muito. Sobre o acesso, em primeiro lugar, que aqui têm os sem voz, os silenciados, os que as câmaras das televisões não esperam à saída dos estabelecimentos prisionais ou dos tribunais onde figuras gradas são também notícia. Sobre a solidariedade, em segundo lugar, sem condições e sem discussão. As pessoas não se conhecem, não se sabem a cor dos cabelos nem dos olhos, a idade que têm, as profissões que exercem, os rendimentos que declaram. E estão disponíveis para se ajudar.

Depois, como em tudo na vida, muitas delas agem e reagem à sua maneira, como na Bancada Central da TSF, linchando os árbitros, excomungando os adversários, beatificando os seus apaniguados. E assim é também no que respeita à política, à religião, à cidade, à vila ou à aldeia. Lamentavelmente! Porque o que seria admirável seria que se trocassem ideias de que o país está cada vez mais carente, em relação a tudo. Não se ouvem ideias novas seja onde for, seja sobre o que for. O país é um país distante, de tão vazio. E cada vez se distancia mais!

Por mim, para que não fiquem dúvidas, quero deixar bem claro que me não envolvo em discussões apaixonadas e desde logo estéreis e me não motivam propósitos políticos, religiosos, clubísticos, regionais, raciais ou de qualquer outra natureza. Gostaria, isso sim, de escalpelizar pelo riso, pelo sarcasmo e pela ironia a triste realidade com que nos confrontamos quotidianamente nos mais variados sectores. Falta-me naturalmente talento para tanto, mas nunca ninguém é aquilo que quer, mesmo depois de ser alguma coisa, que não é o meu caso.

Permito-me transcrever Eça e aquilo que escreveu em Maio de 1871 e que está disponível em Uma Campanha Alegre:

Assim vamos. E na epiderme de cada facto contemporâneo cravaremos uma farpa. Apenas a porção de ferro estritamente indispensável para deixar pendente um sinal! As nossas bandarilhas não têm cor, nem o branco da auriflama, nem o azul da blusa. Nunca poderão tão ligeiras Farpas ferir a grande artéria social: ficarão à epiderme. Dentro continuará a correr serenamente a matéria vital - sangue azul ou sangue vermelho, dissolução de guano ou extracto de salsaparrilha.

Vamos rir, pois. O riso é uma filosofia. Muitas vezes o riso é uma salvação. E em política constitucional, pelo menos, o riso é uma opinião.

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial