O disparate não tem descanso
Ontem, dia de Natal, 25 de Dezembro de 2003, acabei conscientemente a fazer aquilo a que eu próprio chamaria um dia sabático. Pensei eu - estúpido! - que o dia, pela carga de tradição que carrega, iria naturalmente determinar que as coisas fossem genericamente assim. E senti crescer a esperança quando, pela manhã, verifiquei que alguns dos jornais não tinham saído para a rua, pura e simplesmente. Sabendo-se que a melhor maneira de não dizer asneiras é estar calado pensei, e penso, que não dando voz a uma série de personalidades que nos perseguem os dias, as mesmas nos não brindariam com imbecilidades.
Esperança vã, logo se viu. Na mesma linha de pensamento aguardei que as rádios não fossem ouvir ninguém, respeitassem a privacidade dos lares e se abstivessem de nos encher os ouvidos com "spots" publicitários a proclamar disparates. E que as televisões fizessem a mesma coisa, não pondo na rua, ao frio do inverno, jovens repórteres impantes de vaidade e convencimento, invariavelmente chumbados à disciplina de português no ensino secundário e depois, muitas vezes, licenciados por uma daquelas escolas que têm o percurso pejado de escândalos ou se transformaram em fundações por Decreto-Lei, a bem da utilidade pública, da fuga aos impostos e do desmesurado e translúcido enriquecimento dos seus dirigentes.
Tudo em vão. À noite, na televisão do nosso serviço público, um vereador da Câmara do Porto que dá pelo nome de Paulo Morais e responde pela alcunha de vice-presidente, abria a boca e, à falta de moscas, cuspia disparates e perdigotos à mistura. A propósito de uma organização que na cidade do Porto se tem preocupado alguma coisa com os chamados sem-abrigo e com uma refeição ou outra, enquanto o tal de Morais anda embrenhado na construção de barracas de doze andares na frente marítima do parque da cidade ou noutro sítio qualquer. A organização dá pelo nome de Coração da Cidade e tem tido, como uma das principais figuras dos seus apoiantes o Sr. Pinto da Costa.
A ajuda da Câmara à dita organização tem sido exemplar, desde a recusa de apoios financeiros até ao indeferimento sistemático e sucessivo de quantas pretensões lhe têm sido formuladas. Na noite da consoada, quando era previsível que estivessem a recato, em suas casas, jantando em família e aguardando pela missa do galo - como até o beato do Dr Portas lhes teria aconselhado - alguns manfestantes invetivaram o Sr Pinto da Costa e quem o rodeava a propósito de uma ceia de Natal que aquela organização preparara para os sem-abrigo, a pretexto dos perigos de morte e contágio que adviriam para os seus filhos, frequentadores de um infantário situado, ao que parece, em instalações ao lado.
Não bastando isso, quando estava tão elucidativamente calado, quando era por uma vez convincente na vida, o tal de Paulo Morais abre a boca e diz que os tempos em que a visibilidade pública dos amigos era invocada e chegava para resolver os problemas tinha passado à história e que, agora, sob a gestão do Dr Rio, as coisas tinham mudado e já assim não era. O que, linearmente, queria dizer que os sem-abrigo devem pura e simplesmente ser despejados do local e devolvidos à rua com o mesmo frio e a mesma barriga vazia do calor efémero e enganador de uma sopa de couve galega.
Estou à vontade! Não sou amigo, não conheço e não gosto do Sr Pinto da Costa. Embora, muitas vezes, aprecie a inteligência irónica que põe no tratamento de assuntos que o obrigam a dirimir publicamente. Mas preocupa-me muito mais um só sem abrigo do que toda a geração do senhor vereador, que se entretem a persegui-los e a tentar que alguns bem intencionados voluntários não consigam fornecer-lhes ao menos uma sopa quente. Mesmo que seja noite de consoada!
Esperança vã, logo se viu. Na mesma linha de pensamento aguardei que as rádios não fossem ouvir ninguém, respeitassem a privacidade dos lares e se abstivessem de nos encher os ouvidos com "spots" publicitários a proclamar disparates. E que as televisões fizessem a mesma coisa, não pondo na rua, ao frio do inverno, jovens repórteres impantes de vaidade e convencimento, invariavelmente chumbados à disciplina de português no ensino secundário e depois, muitas vezes, licenciados por uma daquelas escolas que têm o percurso pejado de escândalos ou se transformaram em fundações por Decreto-Lei, a bem da utilidade pública, da fuga aos impostos e do desmesurado e translúcido enriquecimento dos seus dirigentes.
Tudo em vão. À noite, na televisão do nosso serviço público, um vereador da Câmara do Porto que dá pelo nome de Paulo Morais e responde pela alcunha de vice-presidente, abria a boca e, à falta de moscas, cuspia disparates e perdigotos à mistura. A propósito de uma organização que na cidade do Porto se tem preocupado alguma coisa com os chamados sem-abrigo e com uma refeição ou outra, enquanto o tal de Morais anda embrenhado na construção de barracas de doze andares na frente marítima do parque da cidade ou noutro sítio qualquer. A organização dá pelo nome de Coração da Cidade e tem tido, como uma das principais figuras dos seus apoiantes o Sr. Pinto da Costa.
A ajuda da Câmara à dita organização tem sido exemplar, desde a recusa de apoios financeiros até ao indeferimento sistemático e sucessivo de quantas pretensões lhe têm sido formuladas. Na noite da consoada, quando era previsível que estivessem a recato, em suas casas, jantando em família e aguardando pela missa do galo - como até o beato do Dr Portas lhes teria aconselhado - alguns manfestantes invetivaram o Sr Pinto da Costa e quem o rodeava a propósito de uma ceia de Natal que aquela organização preparara para os sem-abrigo, a pretexto dos perigos de morte e contágio que adviriam para os seus filhos, frequentadores de um infantário situado, ao que parece, em instalações ao lado.
Não bastando isso, quando estava tão elucidativamente calado, quando era por uma vez convincente na vida, o tal de Paulo Morais abre a boca e diz que os tempos em que a visibilidade pública dos amigos era invocada e chegava para resolver os problemas tinha passado à história e que, agora, sob a gestão do Dr Rio, as coisas tinham mudado e já assim não era. O que, linearmente, queria dizer que os sem-abrigo devem pura e simplesmente ser despejados do local e devolvidos à rua com o mesmo frio e a mesma barriga vazia do calor efémero e enganador de uma sopa de couve galega.
Estou à vontade! Não sou amigo, não conheço e não gosto do Sr Pinto da Costa. Embora, muitas vezes, aprecie a inteligência irónica que põe no tratamento de assuntos que o obrigam a dirimir publicamente. Mas preocupa-me muito mais um só sem abrigo do que toda a geração do senhor vereador, que se entretem a persegui-los e a tentar que alguns bem intencionados voluntários não consigam fornecer-lhes ao menos uma sopa quente. Mesmo que seja noite de consoada!
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