Para que se saiba: o país está preparado para tudo

Mas a questão de hoje, levantando a hipótese - teórica, remota e impossível - de Portugal, este Portugalzinho colocado no extremo ocidental da Europa, com o cabo da Roca a pôr-se em pontas de pés reclamando os louros do triunfo, sofrer um sismo com a intensidade do que esbandalhou o Irão e sobre as possíveis consequências - teóricas, remotas e impossíveis - catastróficas, é para soltar à gargalhada. Então quem somos, de onde vimos, para onde vamos? Chegamos a esta altura do campeonato e temos dúvidas, é? As pessoas não atentam no humilde bom senso do Sr José Mourinho que repete insistentemente que o campeonato não está ganho, que há outros adversários na corrida, etc e tal e coisa. E só muda se por acaso um desses pretendentes disser que vai ele ganhar o campeonato para lhe retorquir: não ganhas, não ganhas, não ganhas!
Não faz naturalmente sentido perguntar seja a quem for se o país estaria preparado fosse para o que fosse, fosse quando fosse. O país, graças a Deus e aos orgãos de soberania, está sempre preparado para tudo. O português é conhecido nos quatro cantos do mundo como o campeão do desenrasca. Não se atrapalha por dá cá aquela palha e engendra sempre uma solução que é, muitas vezes, um primor de imaginação. Temos que ser fiéis ao nosso passado recente e recordarmo-nos dos bons exemplos que estão espalhados aí por todo o lado.
Centro Cultural de Belém: foi construído para nosso orgulho no cumprimento rigoroso dos padrões orçamentais impostos pelo professor de finanças públicas da Dra Manuela. Não houve desvios, não custou nem mais um cêntimo, - à altura eram centavos, embora caídos em desuso! - a comunidade internacional ainda hoje nos felicita pelo sucesso. Elogia-se-nos a preparação e o saber de experiência feito.

O mundial de futebol da Coreia / Japão: mais um sucesso, a malta meteu nas malas de viagem os melhores fatos, as camisas mais garridas, centenas de camisolas com o nome do Luís Figo nas costas e o emblema das quinas colado à frente, bem sobre o sítio do coração, palpitante e eufórico. O presidente da república recebeu a comitiva - modesta, pouco mais de vinte jogadores e de oitenta burocratas, com o Dr Madail no comando - que lhe foi apresentar cumprimentos, o primeiro ministro foi lacónico mas imperativo: tragam a taça. Depois os Estados Unidos fizeram-nos meter no saco a guitarra portuguesa que leváramos e, de monco caído, os coreanos repatriaram-nos. Mas o país estava preparado para o caso de termos ganho e ainda hoje se nos enaltece o saber de experiência feito. Apenas se não sabe do Sr António Oliveira nem do cheque que, por desconhecer-lhe a nova morada, o Dr Madail teve de enviar-lhe para a posta restante.

Agora essa do terramoto não lembra ao diabo. Ainda há poucos meses tivemos a experiência dos incêndios de Verão, temos presentes os procedimentos para as diversas emergências, o nosso ministro da confusão interna tem currículo, está habituado à crise, chamam-no a responder por ela, na assembleia dos deputados, quase todas as semanas, nunca se engasga e raramente gagueja. Um terramoto? Ora, isso é como dizia o Sebastião José em 1755: tratar dos vivos e enterrar os mortos. Para uns, assegura-o o ministro, já não há listas de espera nos hospitais. Para os outros, não faltam cangalheiros à porta das casas mortuárias. E pergunta-se se estaríamos preparados!...
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