2 de março de 2004

Avelino Ferreira Torres: a coerência e o direito de defesa

Mesmo quando pensamos ser pessoas ponderadas, que previamente analisamos os diversos contornos de cada situação, acabamos uma vez por outra por reagir emocionalmente em função daquilo que lemos e ouvimos dizer. Assim aconteceu ontem relativamente a comportamentos atribuídos a Avelino Ferreira Torres no decurso de um desafio de futebol de domingo passado.

Ontem tivemos a oportunidade de ver passar na televisão, repetidamente, as imagens de hipotético incidente. E ainda de ouvir o próprio que uma estação de televisão, em boa hora, convidou a estar presente num dos seus noticiários. Ficou-nos perfeitamente claro que nos tínhamos precipitado no "post" de ontem que, desagradavelmente, não obedecia à isenção que se exige sempre que se emitam opiniões em relação seja a quem for. Mesmo que esse alguém seja Avelino Ferreira Torres.

Primeiro as cenas registadas apenas nos mostram uma pessoa bem vestida, sem nenhum aspecto andrajoso, bem penteado e de sapatos a brilhar da graxa, com uma gravata sóbria a combinar elegantemente com o fato. Vê-se como serenamente e de forma educada se dirige a uma das linhas laterais do campo não se vendo, todavia, como surgiu assim, de repente, naquela zona do estádio. Mas sendo ele presidente da câmara, ainda por cima há mais de vinte anos, até pode ter acontecido que tenha caído do céu. Como caiu aos eleitores do Marco, sempre com a queda amortecida pelo uso de pára-quedas. Não se ouvem as palavras que diz, mas um homem daqueles, desempenhando as funções que desempenha, certamente que ajuda os velhinhos a atravessar as ruas e dá sempre uma moedinha aos arrumadores de rua, mesmo que tenha estacionamento privativo. E se deixou de dar um ou outro chupa-chupa às crianças das escolas que visita em triunfo, foi apenas porque, nos dias que passam, ainda podiam levantar falsos testemunhos a seu respeito.

A sua presença na televisão foi um acto de elementar ética jornalística: ouvir os interessados antes de os condenar. Mais do que isso acabou depois a revelar-se perfeitamente fundamental. Avelino Ferreira Torres - que o jornalista sugeriu gostar de ser tratado por senhor presidente - apareceu com o mesmo aspecto limpo e asseado e com ar de quem até já tinha jantado num bom restaurante, bebendo verde tinto da sua região, que ele é bairrista, naturalmente à conta da autarquia ao serviço de quem estava. Foi cordato, moderado, utilizou sempre uma linguagem simples mas correcta a que nem a Dra Edite Estrela ousaria por reparos. Nem sequer o senhor Fernando Pessa, de saudosa memória.

Aconselhou o jornalista, desinteressadamente, a consultar urgentemente um oftalmologista, por ser vesgo. Não teve este a mesma educação ou o elementar bom senso de lhe agradecer o gesto. Como devia! Depois, cordialmente, chamou-lhe mentiroso e mesmo aldrabão, de dedo indicador em riste. Mas sempre educadamente, de sorriso nos lábios, metendo no bolso, mais uma vez, o partido a que o Dr Portas julga que preside. Ficámos esclarecidos e aqui, sítio onde diariamente se deslocam dois leitores, nos penitenciamos pelos erros de avaliação cometidos ontem.

Só para finalizar. Se hoje a discussão da questão do aborto no parlamento não tiver o desfecho que desejamos, amanhã de manhã estamos no hemiciclo de S. Bento. Para partir as bancadas todas a pontapé. Pagámo-las com dinheiro do nosso bolso, não foi? Sorte terão os deputados que, assim cedo, estarão ainda no primeiro sono. Senão haveriam também de levar os fundilhos das calças em bom estado. Também fomos nós que os pagámos, não foi?

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial