Trinta anos depois
Hoje, precisamente! Volvidos trinta anos exactos sobre este dia vinte e cinco, desejaria que ele enchesse o mês de Abril todo, de um a trinta. Pleno, inteiro e completo. Me devolvesse à feira e ao carrossel sem luzes de néon, montado num cavalo de pau com as orelhas partidas e a pintura definitivamente esmurrada. Me fizesse da vida ponto de encontro, sem choros nem lamentos, com os amigos e os sonhos que se foram perdendo de mim pela acumulação dos dias e pelo encantado esquecimento das noites.
Que uma estrela matinal despontasse com o dia, serena e decidida, a oriente, na tranquilidade verde e amena das savanas de África. Pudesse eu apascentar, convicto, sonhos, projectos e aventuras. Acreditar que o futuro só o será se for melhor para todos, se a fome com que as crianças morrem puder sucumbir às armas da vontade que empunhamos. Solidários com a vida. Sentir que África não é o continente do futuro, jorrando recursos naturais em torrentes ininterruptas de lava, directamente para os balcões das bolsas de valores. Nem sequer do presente, esvaindo-se aos poucos, estropiado por minas e por sidas, sem exércitos que se lhes oponham. Se assim for é preferível que seja do passado, com o humanismo de Senghor caindo gota a gota, como orvalho da madrugada escorrendo pelo tronco centenário de majestosos embondeiros.
Que a memória e o tempo me devolvam o que de nobre se foi perdendo pelos anos. Para que possa acreditar de novo e sentir que há uma lógica universal que não precisa do rigor de nenhuma lei escrita para estender à nossa frente como um aguçado fio de navalha sobre o qual, sem nos ferirmos, teremos de nos equilibrar. Que me digam de si os parceiros das caminhadas que fizemos juntos, me tragam de novo a poesia toda e a serenidade para ouvirmos, resistindo a todas as emoções, Villaret dizer o Cântico Negro. Que me arranjem, à socapa, quantos exemplares puderem de Luuanda, enquanto Luandino estiola ao sol insular do Tarrafal e os esbirros de Silva Pais fazem em cacos o trabalho acumulado de tantas vontades e de tantos anos.
Que as espingardas rebentem em flor, como acácias rubras ao inclemente sol dos trópicos, saturando o ar de pólenes alérgicos e acolhendo-nos à sua sombra. Que o sonho renasça, cresça, se amplie e não deixe que nos envergonhemos da herança que preparamos para os nossos filhos. Que Abril se possa cumprir, como sonho que foi e como sonho que deve ser. De forma mais digna, mais equitativa e mais justa!
Que uma estrela matinal despontasse com o dia, serena e decidida, a oriente, na tranquilidade verde e amena das savanas de África. Pudesse eu apascentar, convicto, sonhos, projectos e aventuras. Acreditar que o futuro só o será se for melhor para todos, se a fome com que as crianças morrem puder sucumbir às armas da vontade que empunhamos. Solidários com a vida. Sentir que África não é o continente do futuro, jorrando recursos naturais em torrentes ininterruptas de lava, directamente para os balcões das bolsas de valores. Nem sequer do presente, esvaindo-se aos poucos, estropiado por minas e por sidas, sem exércitos que se lhes oponham. Se assim for é preferível que seja do passado, com o humanismo de Senghor caindo gota a gota, como orvalho da madrugada escorrendo pelo tronco centenário de majestosos embondeiros.
Que a memória e o tempo me devolvam o que de nobre se foi perdendo pelos anos. Para que possa acreditar de novo e sentir que há uma lógica universal que não precisa do rigor de nenhuma lei escrita para estender à nossa frente como um aguçado fio de navalha sobre o qual, sem nos ferirmos, teremos de nos equilibrar. Que me digam de si os parceiros das caminhadas que fizemos juntos, me tragam de novo a poesia toda e a serenidade para ouvirmos, resistindo a todas as emoções, Villaret dizer o Cântico Negro. Que me arranjem, à socapa, quantos exemplares puderem de Luuanda, enquanto Luandino estiola ao sol insular do Tarrafal e os esbirros de Silva Pais fazem em cacos o trabalho acumulado de tantas vontades e de tantos anos.
Que as espingardas rebentem em flor, como acácias rubras ao inclemente sol dos trópicos, saturando o ar de pólenes alérgicos e acolhendo-nos à sua sombra. Que o sonho renasça, cresça, se amplie e não deixe que nos envergonhemos da herança que preparamos para os nossos filhos. Que Abril se possa cumprir, como sonho que foi e como sonho que deve ser. De forma mais digna, mais equitativa e mais justa!
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