21 de abril de 2004

A vocação submarina do país

Sou, quanto a este assunto, e com vossa licença, perfeitamente insuspeito. Não conheço o Dr Paulo Portas de lado nenhum e sei não perder nada por isso, ainda não ouvi ninguém a elogiar-lhe as qualidades e a ética dos procedimentos e não me apercebi de que qualquer brigada do reumático do exército lhe tivesse ido prestar vassalagem ao forte onde vive entrincheirado à custa do pagode. O professor Marcelo, como se sabe, queixa-se dele lhe ter cuspido na sopa ainda antes de ter empunhado a respectiva colher. Os generais, demitidos ou não de qualquer estado maior, não andam com a sua fotografia nas carteiras e mesmo a recauchutada Cinha Jardim, apesar da proximidade, não entrou em transe, não se meteu na bebida, não atingiu o coma alcoólico e, em consequência, não fez as cenas tristes que a sua filha Pimpinha fez não sei quando e não sei onde.

Mas, por uma vez, reconheçamos que Paulo Portas, ministro, cumpre a vocação submarina do país e a pátria, agradecida, há-de reconhecê-lo e erigir-lhe uma estátua, mais tarde ou mais cedo. Já hoje o ouvi dizer, a pretexto de declarações produzidas por terceiros e a que faltou o celestial bom senso de Luís Delgado, que Portugal não pode abandonar a sua tradição marítima. Por isso mesmo, pense a Nato o que pensar, proceder à aquisição de submarinos é um acto simultaneamente heróico e patriótico. Tivesse ela sido deliberada mais cedo e não teríamos perdido nem a Índia nem S. João Batista de Ajudá. E, quase seguramente, teríamos submetido o malogrado Samora em Cabo Delgado, mandado um submarino ocupar a albufeira de Cahora Bassa e metido atrás das grades, ainda vivo, o Dr Savimbi, por muito que protestasse o seu afilhado, Dr João Soares.

Um país que descobriu novos mundos, que teve um infante D. Henrique a programar descobrimentos enquanto chapinhava nas margens do Douro, um Álvares Cabral que largou ferro à descoberta do Brasil sem uma única bússola e um Fausto a produzir uma obra de referência como é o Por este rio acima, não pode abdicar, sem luta e sem orgulho, do seu destino secular. Tendo marinheiros, mesmo em terra, tem que ter barcos e submarinos. Barcos já tinha: os que vão para o Barreiro e para o Seixal. Submarinos vai tê-los, embora sem percursos disponíveis para que se lancem nas carreiras regulares. Mas, no actual estado de coisas, um deles poderá patrulhar a costa algarvia, de Sagres a Vila Real de Santo António e o outro poderá ser afecto à fiscalização permanente do Douro internacional. Ambos sob o comando de um capitão de mar e guerra. De preferência, que saiba nadar!

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