16 de maio de 2004

E ainda a procissão vai no adro…

Há bastantes anos atrás o país ofendeu-se quando Melo Antunes o declarou como sendo do terceiro mundo. Mas a desgraça não era, como continua a não ser, pertencermos a um terceiro, quarto ou enésimo mundo. Desgraça é aceitá-lo pacificamente, acomodarmo-nos, sermos de todo incapazes de progredir e de nos promovermos a primeiro. Podemos ser pobres mas não temos que necessariamente ser burros. Infelizmente somos muitas vezes ambas as coisas, celestialmente dirigidos por grupos de oportunistas e vigários que nos induzem regras que não conduzem a nada.

Dentro de menos de um mês, por sinal no dia em que se celebra um dos santos populares mais queridos do país, vão realizar-se eleições para o parlamento europeu. Há um ou dois dias mais uma das sondagens que com despudor tomam uma ínfima parte pelo todo proclamava que mais de metade dos inquiridos não sabiam sequer em que data se irão realizar. E, naturalmente, muito menos saberão para que servem, quantos deputados elege o país, que duração tem o seu mandato, que funções terão. Não sabem e não se interessam. Pura e simplesmente marimbam-se nisso, e fazem muito bem.

Não se admite que os partidos do governo promovam o obscurantismo do eleitorado, mas compreende-se. Ocupam o poder, ainda hoje não sabem muito bem como lá chegaram, perseguem o propósito único de o conservar. Depois de mais de dois anos a viver à grande e à francesa continuam a justificar todos os desvios, todos os deslizes e toda a incapacidade com a herança que lhes foi legada pelo engenheiro Guterres que aproveitou a primeira oportunidade para se escapulir pela esquerda baixa.

Já quanto aos partidos da oposição a questão é diferente. E partidos da oposição com hipóteses futuras de serem chamados ao governo há, em boa verdade, apenas um. Gostemos dele ou não, sejamos ou não frequentadores da Quinta da Atalaia, cumprimentemos o Dr. Louçã e a D. Ana Drago, digamos ou não alguma coisa ao Manel. E esse partido é, obviamente, o partido socialista. Que persegue uma táctica de avestruz, enterra a cabeça na areia e proclama que é preciso mostrar um cartão amarelo ao governo, como se isto fosse um desafio de futebol promovido pela liga do arguido major.

A título de opinião o deputado Fernando Gomes, que não foi melhor ministro que Figueiredo Lopes, dá a uma crónica o título "Más novas" e arrola uma ladainha de desgraças que têm acontecido ao governo, como se isso lhe tirasse o sono e o apetite. Ideias não apresenta uma, propostas não as faz, insiste a querer dar razão ao primeiro ministro quando fala de aves de agoiro e propõe a ordem da liberdade para um Bokassa madeirense. Não interessa o arrolamento sistemático e exaustivo das desgraças. Interessa saber como se pode inverter a situação!

O próprio Ferro Rodrigues equivoca-se com frequência. Goste do Sporting, mantenha o lugar cativo, vá aos jogos - se é masoquista, porque é para sofrer mais um pouco! - e deixe os cartões para os árbitros. Deixe-se de ajustes de contas. Se a questão é de desagravo desafie Barroso para um duelo à moda antiga, num dia de semana, manhã cedo, para a Praia das Maçãs. Deixe-se de suspeitas sobre se Durão remodela antes ou depois das europeias. Diga-nos o que nos propõe, como corrige os desmandos do ministro do grupo Mello, que pensa da actuação do Bagão e que propõe. Elucide-nos! Diga-nos quem propõe para o parlamento europeu, porquê e com que projecto. Fale-nos da Europa onde os políticos se enfartam, pedagogicamente informe-nos. Se não souber mais, ao menos diga-nos que as europeias são a 13 de Junho, a seguir à noite das sardinhas no pátio alfacinha.

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