13 de maio de 2004

O julgamento do major e a comitiva de merda

Depois de se ter visto envolvido num corriqueiro processo de averiguações, a que deram o nome de apito dourado, o presidente em exercício da Câmara de Gondomar e da Junta Metropolitana do Porto, presidente suspenso da Liga de Futebol Profissional e do Metro do Porto e honorário do Boavista Futebol Clube, viu-se coagido a passar a manhã de ontem numa porra de uma exígua sala de audiências do 3º. Juízo Criminal do Porto, localizada na sacana da Rua do Bolhão, em pleno centro da mui nobre, leal e sempre invicta cidade do Porto.

A sua chegada ao tribunal, a fim de ser julgado por ter injuriado dois agentes da PSP há quase cinco anos, fez-se no meio de um aparato do catano e pôs de sobreaviso os transeuntes e os comerciantes da zona. Os primeiros optaram por baixar os estores das vitrinas e cerrar as portas, de modo a evitar os actos de vandalismo e o saque. Quanto aos segundos optaram pela estratégia "pernas para que vos quero" enquanto, prudentemente, apertavam as carteiras contra o corpo, prevenindo a intrusão da mão dos carteiristas profissionais.

Sua excelência chegou ao local trajando fato de bom corte, com a barba elegantemente aparada e o cabelo esmeradamente penteado. Fazia-se acompanhar por uma corriqueira comitiva de merda que incluía assessores, familiares, amigos e lambe-botas, sendo escoltado por seis - não há engano, eram mesmo seis! - garbosos e aprumados agentes da Polícia Municipal de Gondomar, terra da mais famosa sopa de nabos do país. Cumprimentou educadamente os jornalistas, sorriu para as câmaras, acenou para os operadores de imagem e não fez declarações.

Já sentado do banco dos réus, como qualquer corriqueiro bardamerda, garantiu sua excelência não ter insultado nenhuns agentes no dia 4 de Outubro de 1999, embora estes tivessem mencionado na participação que ele se lhes dirigiu em tom autoritário e prepotente, perfeitamente o oposto do seu feitio e dos seus usos como se sabe até mesmo além de Gondomar. Mais escreveram os agentes que sua excelência lhes terá perguntado o que ali faziam, alegado que os automóveis mal estacionados não estorvavam nada e que eles eram uma merda mas que, em breve, seriam substituídos por polícia municipal.

Magnânimo, concedeu sua excelência que de facto terá proferido a palavra merda mas que o termo é corriqueiro. Apesar disso nunca terá dito vão à merda mas, muito apenas, isto é uma merda. E, mesmo assim, dirigindo-se a um senhor seu genro e ao seu chefe de gabinete. Além disso notou que os agentes não usavam o boné que o regulamento manda e que se eles podiam permitir-se o incumprimento das normas também ele e os amigos poderiam estacionar os automóveis em transgressão. Ameaçou de facto apresentar queixa desse desleixo de merda mas, como tinha mais que fazer, não cumpriu a ameaça. De qualquer modo o facto servira de exemplo e o regulamento da polícia municipal de Gondomar estipula, no seu artigo 23º, número dois, alínea b, parágrafo três, na página dezoito, ao fundo, que o boné deve ser usado permanentemente. Como peça corriqueira do fardamento. Se houvesse dúvidas, ali estava, na assistência, a sua garbosa escolta: de farda engomada, camisa branca lavada com Omo e botas altas a brilhar da graxa. Ah! E obviamente, de boné no alto da moleirinha!

Por contradições detectadas a procuradora propôs uma acareação para 3 de Junho. A juíza aceitou e sua excelência concordou. Até sugeriu mais! Que se deslocassem todos ao local onde os factos ocorreram para perceberem melhor como as coisas se tinham passado. As despesas seriam de sua conta e, se calhar, até pagaria assim a modos que um corriqueiro almoço depois da reconstituição. Segundo reza a notícia, a juíza, seca, terá replicado que o Código é que diz quem paga as despesas.

Como o caso não ficou encerrado, vai haver mais merda. Corriqueira! Para já sua excelência regressou à sua freguesia com a escolta de seis garbosos a aprumados polícias e fazerem de batedores e a abrir-lhe caminho. Sempre impecavelmente de boné posto!

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