10 de maio de 2004

Malhas que o império tece…

Foram essas malhas, imprevistas, incontornáveis e definitivas, que ontem nos impediram de marcar presença. De facto, não se sabe porquê, parece que o computador que seria utilizado se decidiu, mesmo quando se disputava a última jornada do campeonato de futebol da Superliga, por uma greve idêntica à que o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras já anunciou para o período de validade do Euro 2004. Falta de respeito, nem o apito dourado com galões de oficial o dissuadiu.

Mas a falta não provocou alarmes e o país manteve-se tranquilo. Não consta que, com isso, o professor Cavaco se tenha decidido a ser candidato a Presidente da República nem que o Dr Santana tenha desistido disso. Não foi reforçado o inexistente policiamento das ruas nem aumentada a potência dos candeeiros de iluminação pública. O Sr Mourinho não renunciou à sua ida para treinador do Chelsea e o governo não caiu nem melhorou o desempenho. Não houve manifestações de trabalhadores e o Sr Torres Couto manteve-se tranquilamente na reforma, cultivando a sua ma-schamba. O ministro Figueiredo Lopes não convocou os bombeiros nem adiou nenhuma ida patriótica ao Iraque. O Dr Portas não foi interrompido na missa a que assistia, de joelhos, no forte de S. Julião com a D Cinha ao lado, de face coberta por um negro véu de crente convicta, parecendo uma viúva alegre. O Dr Rio não foi forçado a abandonar a intenção de acompanhar o último reduto do Boavista nesta época e o Dr Menezes não teve que pousar os talheres a meio de uma saborosa cataplana em Matosinhos. O Sr Bush não foi reeleito nem o Sr Saddam libertado, o que apenas compromete a continuidade da espécie.

De forma que tudo está bem quando acaba bem e, neste caso, há-de acabar bem. A blogosfera não deu sequer pela falta, o Dr Pacheco não perguntou - abrupto! - o que se passava depois de ter interrompido a sua vida de cavaleiro andante, sem virgens espreitando-o das ameias dos castelos. A glória não deixou de ser fácil para uns, nem a vida difícil para outros. Os impostos não desceram, os dentes não caíram ao primeiro-ministro e o homem a dias não teve alternativa a não ser a esfregona. Tudo normal. Nem o gin tónico se acabou nem, chegada a noite, o mocho deixou de piar. Hoje é outro dia!

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