O país sempre achou que para pegar touros é preciso conhecer-lhes o ADN
Durante muitos anos o Dr Salazar manteve em funcionamento um sistema absolutamente perverso que se esgotou a querer fazer crer ao país que este, desgraçadamente, era geograficamente pequeno e irreversivelmente pobre. Perante tal fatalidade valia-lhe o facto dele, António, ter sido enviado por Deus, por alta misericórdia, para orientar e dirigir o Portugal uno e indivisível, do Minho a Timor. Cáfila ingrata de ignorantes, analfabetos e indigentes, não soube o mesmo país reconhecer a dádiva e acabou com o uno, o indivisível e o sistema, aproveitando-se nitidamente do facto de alguns vultos da sua actual vida pública ainda andarem na escola, envergando bibe, bata e meias altas enquanto iam limpando os narizes ranhosos às costas da mão.
Quase convencido, o país devotou-se à senhora de Fátima, empunhou a bandeira nacional, cantou o hino nacional a plenos pulmões como se fosse o Sr Mário Lanza e foi repetindo que não era nenhuma vergonha ser pequeno ou ser pobre. Até porque, para além da devoção, nos ficava ainda o fado, no Faia e na Adega Machado e o futebol, com o Benfica e o Eusébio, este um expoente máximo da multi-racialidade e do vigor, apregoado, do sangue latino. Mesmo assim alguns menos convencidos foram discretamente abandonando a procissão como o Dr Cunhal e o Sr Manuel Alegre que utilizavam outro missal e iam piedosamente a outras igrejas, onde faziam desenhos e escreviam poemas épicos.
Mas, preto no branco, o país é periférico em relação a umas coisas, marginal em relação a outras e boçalmente negligente e ignorante relativamente a quase todas. O país anda permanentemente a ouvir o Sr João Villaret dizer, como só ele sabia dizer, o Cântico Negro do Dr José Régio: não sei para onde vou, não sei por onde vou, sei que não vou por aí! Tanto assim é que o ministro dos submarinos defende que o país tem mais próxima a fronteira com a América do que com Espanha, por causa do Douro e do Guadiana que se interpõem no percurso de Lisboa a Madrid. A Europa central fica sempre a muitas horas de comboio ou a algumas de voo charter, com uma maleta de cartão às costas, desde que não pese mais do que 20 quilos. No sentido norte-sul as coisas não melhoram muito. O país está a meio caminho entre a Escandinávia, - o Sr José Camarinha aprecia sobremaneira as raparigas louras que de lá vêm à cata do sol, julgando-se um viking - e a África do Norte onde o calor aperta, a tez escurece e a indolência aumenta, havendo quem se julgue descendente directo do Infante Santo e de uma qualquer moura encantada. O país, em boa verdade, existe sem saber onde está, de onde veio e para onde vai. Permanentemente a procurar o equilíbrio que lhe permita usar a tanga que o Dr Barroso lhe vestiu, de forma a não morrer de frio e a não acabar tostado como cabrito de leite no forno a lenha.
O país confunde-se, atrapalha-se, desorienta-se. Por mais convictamente que reze o terço nas peregrinações à Cova da Iria, não pode ver uma carteira a despontar do bolso do peregrino da frente. Quando à terceira tentativa consegue ler os títulos da primeira página do jornal desiste de os entender porque já se julga com direito ao Nobel da literatura. E, nessa presunção, nem o Dr Vasco Pulido Valente consegue impedir seja o que for. Veja-se o caso do Sr Saramago por quem, ainda hoje, o Dr Sousa Lara cumpre a penitência diária de lhe rezar pela bem aventurança.
O país, medieval, não sabe sentar-se à mesa e comer de faca e garfo, apesar dos esforços que nesse sentido fez o Sr João Rocha e dos livros, eruditos, que incansavelmente a D Paula Bobone persiste em escrever para que se instrua. Invariavelmente põe o copo para o lado, pega na garrafa pelo gargalo e bebe dela directamente, limpando os beiços às costas de mão. Arrota alarvemente, muitas vezes de tripa vazia, mas finge sempre que se banqueteia com um irresistível cozido à portuguesa. Desenha moradias, elabora projectos e, pormenor irrelevante, esquece-se sempre do terreno que é necessário para as construir. E, se o não esquece, a maior parte das vezes começa a querer edificá-las a partir do telhado.
Em Portugal não se conduzem automóveis. Acelera-se na perseguição a peões, animais, muros de betão e árvores que, de repente, surgem no caminho sem sinalização e sem aviso. Não se ensina ninguém a conduzir: emitem-se cartas de condução, frequentemente de modo fraudulento. Os muitos acidentes que as estatísticas persistem em registar são isso mesmo: acidentes. De que ninguém é culpado a não ser o excesso de velocidade e as manobras perigosas. Sempre que aumenta o número de acidentes o governo entende que o caso se parece com o da Constituição da República, que impede o desenvolvimento do país. Sendo assim decide-se por um novo Código da Estrada. Para ensinar os condutores a conduzir? Não! Para aumentar o valor das multas a que, sub-repticiamente, chamam coimas. O anterior também não ensinava ninguém e nunca se fomentou a fiscalização do cumprimento da lei. Limitou-se a correr atrás da caça à multa, como contributo para a redução do défice do orçamento e para o esbanjamento do ministro.
Ou alguém se convence de que multar com mil euros uma gaja loura, de vinte e quatro anos de idade, que desça a Avenida dos Aliados a falar ao telemóvel é mais eficaz na redução do índice de sinistralidade do que multá-la com cem euros? Se houver fiscalização que a multe, claro está. Porque no Porto, onde só há polícias para o futebol, isso é muito duvidoso!
Quase convencido, o país devotou-se à senhora de Fátima, empunhou a bandeira nacional, cantou o hino nacional a plenos pulmões como se fosse o Sr Mário Lanza e foi repetindo que não era nenhuma vergonha ser pequeno ou ser pobre. Até porque, para além da devoção, nos ficava ainda o fado, no Faia e na Adega Machado e o futebol, com o Benfica e o Eusébio, este um expoente máximo da multi-racialidade e do vigor, apregoado, do sangue latino. Mesmo assim alguns menos convencidos foram discretamente abandonando a procissão como o Dr Cunhal e o Sr Manuel Alegre que utilizavam outro missal e iam piedosamente a outras igrejas, onde faziam desenhos e escreviam poemas épicos.
Mas, preto no branco, o país é periférico em relação a umas coisas, marginal em relação a outras e boçalmente negligente e ignorante relativamente a quase todas. O país anda permanentemente a ouvir o Sr João Villaret dizer, como só ele sabia dizer, o Cântico Negro do Dr José Régio: não sei para onde vou, não sei por onde vou, sei que não vou por aí! Tanto assim é que o ministro dos submarinos defende que o país tem mais próxima a fronteira com a América do que com Espanha, por causa do Douro e do Guadiana que se interpõem no percurso de Lisboa a Madrid. A Europa central fica sempre a muitas horas de comboio ou a algumas de voo charter, com uma maleta de cartão às costas, desde que não pese mais do que 20 quilos. No sentido norte-sul as coisas não melhoram muito. O país está a meio caminho entre a Escandinávia, - o Sr José Camarinha aprecia sobremaneira as raparigas louras que de lá vêm à cata do sol, julgando-se um viking - e a África do Norte onde o calor aperta, a tez escurece e a indolência aumenta, havendo quem se julgue descendente directo do Infante Santo e de uma qualquer moura encantada. O país, em boa verdade, existe sem saber onde está, de onde veio e para onde vai. Permanentemente a procurar o equilíbrio que lhe permita usar a tanga que o Dr Barroso lhe vestiu, de forma a não morrer de frio e a não acabar tostado como cabrito de leite no forno a lenha.
O país confunde-se, atrapalha-se, desorienta-se. Por mais convictamente que reze o terço nas peregrinações à Cova da Iria, não pode ver uma carteira a despontar do bolso do peregrino da frente. Quando à terceira tentativa consegue ler os títulos da primeira página do jornal desiste de os entender porque já se julga com direito ao Nobel da literatura. E, nessa presunção, nem o Dr Vasco Pulido Valente consegue impedir seja o que for. Veja-se o caso do Sr Saramago por quem, ainda hoje, o Dr Sousa Lara cumpre a penitência diária de lhe rezar pela bem aventurança.
O país, medieval, não sabe sentar-se à mesa e comer de faca e garfo, apesar dos esforços que nesse sentido fez o Sr João Rocha e dos livros, eruditos, que incansavelmente a D Paula Bobone persiste em escrever para que se instrua. Invariavelmente põe o copo para o lado, pega na garrafa pelo gargalo e bebe dela directamente, limpando os beiços às costas de mão. Arrota alarvemente, muitas vezes de tripa vazia, mas finge sempre que se banqueteia com um irresistível cozido à portuguesa. Desenha moradias, elabora projectos e, pormenor irrelevante, esquece-se sempre do terreno que é necessário para as construir. E, se o não esquece, a maior parte das vezes começa a querer edificá-las a partir do telhado.
Em Portugal não se conduzem automóveis. Acelera-se na perseguição a peões, animais, muros de betão e árvores que, de repente, surgem no caminho sem sinalização e sem aviso. Não se ensina ninguém a conduzir: emitem-se cartas de condução, frequentemente de modo fraudulento. Os muitos acidentes que as estatísticas persistem em registar são isso mesmo: acidentes. De que ninguém é culpado a não ser o excesso de velocidade e as manobras perigosas. Sempre que aumenta o número de acidentes o governo entende que o caso se parece com o da Constituição da República, que impede o desenvolvimento do país. Sendo assim decide-se por um novo Código da Estrada. Para ensinar os condutores a conduzir? Não! Para aumentar o valor das multas a que, sub-repticiamente, chamam coimas. O anterior também não ensinava ninguém e nunca se fomentou a fiscalização do cumprimento da lei. Limitou-se a correr atrás da caça à multa, como contributo para a redução do défice do orçamento e para o esbanjamento do ministro.
Ou alguém se convence de que multar com mil euros uma gaja loura, de vinte e quatro anos de idade, que desça a Avenida dos Aliados a falar ao telemóvel é mais eficaz na redução do índice de sinistralidade do que multá-la com cem euros? Se houver fiscalização que a multe, claro está. Porque no Porto, onde só há polícias para o futebol, isso é muito duvidoso!
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