7 de maio de 2004

Já houve as conversas em família. Agora há os negócios em família!

Um marciano que aterrasse de súbito em Portugal e desse uma passagem de olhos pelos jornais - bastava-lhe ler os títulos - ficaria com a ideia de que teria caído na caverna do Ali Babá, mas numa versão mais democrática, da conhecida quadrilha das mil e uma noites.
José Júdice, Portugal Diário, 06.05.2004

Por ajuste directo, sem consulta pública, sem serem reveladas as condições, os CTT - Correios de Portugal entregaram a gestão das infraestruturas das suas comunicações, por um período de dez anos, à Portugal Telecom. Paralelamente à tal versão mais democrática o visitante marciano teria ainda a visão de uma quadrilha muito mais perigosa, muito mais ladrona e muito menos regida por princípios que a própria comunidade de Ali Babá respeitava.

O negócio deve ter sido feito num qualquer fim de semana, à mesa, num almoço domingueiro de família. Quanto mais não seja porque Miguel Horta e Costa, que preside aos destinos da PT, indicado pelo grupo Espírito Santo, foi empregado e foi administrador dos CTT quando estes incorporavam também todas as telecomunicações nacionais, excluindo Lisboa e Porto. Carlos Horta e Costa foi igualmente empregado dos CTT, tendo depois transitado para a Marconi onde, como administrador, deixou marcas definitivas na gestão da Time Sharing, uma subsidiária, com prejuízos que ainda hoje estão por quantificar com rigor. Foi, naturalmente, promovido. Está, pela segunda vez, nos CTT desempenhando o cargo de presidente do Conselho de Administração. Mais arrogante e de processo muito mais ditatorial na actual passagem, como se compreende. Pelo caminho foi secretário geral do PSD no consulado do professor Marcelo e administrador da SAD do Sporting.

E, simples casualidade, ambos são primos. Ambos podem entender-se com muito maior facilidade. O que permitirá a Carlos Horta e Costa continuar a desmantelar os CTT afirmando que os mesmos estão prontos a ser privatizados. Em boa verdade eles vêm sendo privatizados assim, à sucapa, entre primos. Já antes tinha sido entregue à PT a gestão do subsistema de saúde dos CTT e não há uma sem duas. Nem duas sem três!

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