O pânico do país em festa
A pretexto do maior acontecimento desportivo jamais realizado no país, - de acordo com a propaganda - este embandeirou em arco, diz-se estar em festa e vive-se o pânico atroz de um gigantesco campo de concentração deste princípio de século. Nesta semana final de preparação o país foi autenticamente invadido por jogadores da bola, treinadores principais e adjuntos, médicos, massagistas, roupeiros e carregadores de sacos desportivos. Vindos de diferentes origens e utilizando diferentes meios de transporte, rumando sempre a diferentes destinos aquém fronteiras.
Cada comitiva foi convenientemente isolada no degradante sossego de um hotel de luxo, posta de quarentena, não vá qualquer um dos seus elementos transmitir a febre amarela ou a tísica aos incautos e ingénuos indígenas. De muito longe, por entre grades metálicas, fortes lentes fotográficas acompanham os gestos de rapazes de cabelos compridos, barba por fazer e longos pelos nas pernas. Que se entretêm a correr sobre campos relvados, saltando à corda e saltando com colegas escarrapachadas às cavalitas.
As arenas, entretanto, estão prontas. Fortemente guardadas por dispositivos de segurança discretos, incluindo milhares de homens, dezenas de cães amestrados em farejar droga e apanhar fugitivos pelos fundilhos e centenas de cavalos treinados na arte de obedecer aos gestos dos cavaleiros. Não podem ser sobrevoadas e os submarinos que a heróica marinha do país há-de receber não poderão submergir e passar-lhes por debaixo, espiolhando o que se passa. Diz-se que a ansiedade cresce e chega a temer-se que câmaras de gás tenham sido montadas para o sacrifício de inocentes. Um senhor alto e de cabelo inteiramente rapado, falando uma língua qualquer parecida com italiano, de ar suspeito e aspecto irremediavelmente sinistro, foi exibido ontem perante as câmaras de televisão trazendo um apito pendurado ao pescoço por um cordel. Seguramente deve ser um dos carrascos.
O governo diz que está tudo a postos, embora se estranhe o silêncio que sobre o assunto têm mantido os ministros Arnault e Lopes. Mesmo que aquele tenha escrito uma carta em papel linho bond de 120 gramas por metro quadrado, de cor bege, fazendo aos nativos promessas de amor para a legislatura em curso e para a próxima. De passagem referiram as televisões e as rádios que as prisões foram esvaziadas para poderem receber estes malfeitores de luxo, usando grossos livros de cheques e inesgotáveis cartões de crédito, em ouro puro de 18 quilates. À cautela é preciso proteger o pé descalço e o sem abrigo, não vão estes ser saqueados por essa chusma de esquisitos invasores, vestindo camisolas garridas e emborcando cerveja em canecas de três litros.
Cada comitiva foi convenientemente isolada no degradante sossego de um hotel de luxo, posta de quarentena, não vá qualquer um dos seus elementos transmitir a febre amarela ou a tísica aos incautos e ingénuos indígenas. De muito longe, por entre grades metálicas, fortes lentes fotográficas acompanham os gestos de rapazes de cabelos compridos, barba por fazer e longos pelos nas pernas. Que se entretêm a correr sobre campos relvados, saltando à corda e saltando com colegas escarrapachadas às cavalitas.
As arenas, entretanto, estão prontas. Fortemente guardadas por dispositivos de segurança discretos, incluindo milhares de homens, dezenas de cães amestrados em farejar droga e apanhar fugitivos pelos fundilhos e centenas de cavalos treinados na arte de obedecer aos gestos dos cavaleiros. Não podem ser sobrevoadas e os submarinos que a heróica marinha do país há-de receber não poderão submergir e passar-lhes por debaixo, espiolhando o que se passa. Diz-se que a ansiedade cresce e chega a temer-se que câmaras de gás tenham sido montadas para o sacrifício de inocentes. Um senhor alto e de cabelo inteiramente rapado, falando uma língua qualquer parecida com italiano, de ar suspeito e aspecto irremediavelmente sinistro, foi exibido ontem perante as câmaras de televisão trazendo um apito pendurado ao pescoço por um cordel. Seguramente deve ser um dos carrascos.
O governo diz que está tudo a postos, embora se estranhe o silêncio que sobre o assunto têm mantido os ministros Arnault e Lopes. Mesmo que aquele tenha escrito uma carta em papel linho bond de 120 gramas por metro quadrado, de cor bege, fazendo aos nativos promessas de amor para a legislatura em curso e para a próxima. De passagem referiram as televisões e as rádios que as prisões foram esvaziadas para poderem receber estes malfeitores de luxo, usando grossos livros de cheques e inesgotáveis cartões de crédito, em ouro puro de 18 quilates. À cautela é preciso proteger o pé descalço e o sem abrigo, não vão estes ser saqueados por essa chusma de esquisitos invasores, vestindo camisolas garridas e emborcando cerveja em canecas de três litros.
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