O esplendor da classe política
O túnel da CP que liga Campo de Ourique ao Rossio foi encerrado ao tráfego na última noite. Manhã cedo, embora de aspecto asseado, com a barba feita, o cabelo cuidadosamente penteado e o fato à medida, um senhor chamado Braancamp Sobral dava uma conferência de imprensa, confirmava o encerramento, esclarecia que a decisão era sua e que a suspensão se manteria por 60 dias. Adiantava ainda que o túnel tinha cem anos, que havia problemas já reportados em 1927 - época em que lá a CP ou a Refer ou seja o que for não existiam e, portanto, não são responsáveis! - e que a decisão assenta num relatório do LNEC agora conhecido. Quanto a razões referia muito vagamente a patologia, sem adiantar qual era esta: se tonturas, vómitos, cefaleias ou fezes soltas.
Com a abertura do expediente, a partir das nove como usam todos os amanuenses pontuais, apressou-se a oposição - sem teleponto mas aguardando pelas agruras do contraditório - a barafustar que o governo deixara a obra centenária cair em ruínas. Sem nenhuma manutenção e sem nenhuns cuidados, o que desde logo responsabiliza - salvo seja! - toda a gente a partir de el-rei D. Carlos tão barbaramente assassinado no regresso da caça à perdiz. Atribuíram-se ainda culpas ao buraco cuja abertura garantiu a Santana Lopes a promoção a primeiro ministro e assobiou-se para o lado como fez o Dr Sampaio quando lhe assinou o termo de posse.
Coisa rara, o ministro das obras públicas, especialista em petróleos, portagens de Scuts e túneis, veio a público disponibilizar-se para esclarecer tudo e toda a gente, mesmo que isso lhe não fosse solicitado. Até que tu, meu caro António, vens revelar que te encomendaram um serviço e que já há quatro anos o completaste. Quanto a decisões, as mesmas de sempre. Aquilo até está enterrado, ninguém vê, não é obra prioritária porque nem o pároco a divulga nem leva o eleitor a decidir sobre o seu voto. Se abatesse, logo se via. Sempre se esperou que a vereação e o governo - fossem os que fossem - pudessem cair primeiro.
Entretanto toda a classe política se comporta como um preocupado bando de galinhas tontas. Correndo em todos os sentidos, cacarejando com estridência, batendo as asas, pondo o ovo em andamento, no desnorte da corrida. Exibe-se no seu melhor esplendor, no glorioso afã de tirar o cavalo da chuva e sacudir a água do capote. Este país, de facto, enche-me o peito!
Com a abertura do expediente, a partir das nove como usam todos os amanuenses pontuais, apressou-se a oposição - sem teleponto mas aguardando pelas agruras do contraditório - a barafustar que o governo deixara a obra centenária cair em ruínas. Sem nenhuma manutenção e sem nenhuns cuidados, o que desde logo responsabiliza - salvo seja! - toda a gente a partir de el-rei D. Carlos tão barbaramente assassinado no regresso da caça à perdiz. Atribuíram-se ainda culpas ao buraco cuja abertura garantiu a Santana Lopes a promoção a primeiro ministro e assobiou-se para o lado como fez o Dr Sampaio quando lhe assinou o termo de posse.
Coisa rara, o ministro das obras públicas, especialista em petróleos, portagens de Scuts e túneis, veio a público disponibilizar-se para esclarecer tudo e toda a gente, mesmo que isso lhe não fosse solicitado. Até que tu, meu caro António, vens revelar que te encomendaram um serviço e que já há quatro anos o completaste. Quanto a decisões, as mesmas de sempre. Aquilo até está enterrado, ninguém vê, não é obra prioritária porque nem o pároco a divulga nem leva o eleitor a decidir sobre o seu voto. Se abatesse, logo se via. Sempre se esperou que a vereação e o governo - fossem os que fossem - pudessem cair primeiro.
Entretanto toda a classe política se comporta como um preocupado bando de galinhas tontas. Correndo em todos os sentidos, cacarejando com estridência, batendo as asas, pondo o ovo em andamento, no desnorte da corrida. Exibe-se no seu melhor esplendor, no glorioso afã de tirar o cavalo da chuva e sacudir a água do capote. Este país, de facto, enche-me o peito!
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