29 de janeiro de 2005

Culturporto

Está enganado Jorge Marmelo: o Entroncamento não está em risco! Por muito que isso me custe, pelas minhas raízes escalabitanas, o Entroncamento não passa hoje de uma estação arqueológica onde se cruzam comboios, se requalificam algumas carruagens e, de Verão, se parte para o Paul do Boquilobo a debicar achigãs com salada de tomate. Os nabos já não alcançam o tamanho de antigamente, não chegam às bancas do mercado de Tomar, muito menos sonham com o mercado de Santana, já requalificado para a venda da ginjinha a acompanhar as especialidades gastronómicas da Mac Donalds. Mesmo a afamada sopa de nabos, como certamente já terá sabido por um qualquer desenxabido despacho da Reuters, é hoje produzida em Gondomar, com menores custos, mais sabor e levando tora como o caldo verde à maneira. Não me explico mais e não lhe digo porquê porque de facto o não sei. Mas o major, agora que se confessa cansado de distribuir televisores e receber apitos, de oferecer galinhas e não lhe darem a provar da canja, num momento mais desocupado certamente lho explicará. Desde que você se empenhe nisso e não lhe publique a fotografia, nem mesmo no caderno local, que ele está cansado de ser figura pública: todos lhe pedem para a sopa!

Pronto! António Sousa Lemos é vereador da Cultura da Câmara do Porto e é militante do partido que já apresentou governo antes das eleições. Mas lá porque o Dr. Louçã acha que o respectivo presidente não tem autoridade para falar sobre o aborto - IVG para a classe política e para os cientificamente alinhados! - não se podem reduzir as competências ao homem e retirar-lhe a faculdade de nomear, com base na análise do currículo dos candidatos, a directora da Culturporto. Era o que faltava! Com a maluqueira da redução de custos, porque todo o dinheiro é pouco para pagar os calotes do Euro 2004 e para indemnizar a Imoloc, não tardava nada e o Dr. Rio mandava retirar-lhe o antiquado Audi de 1998, que até envergonharia os vereadores de Celorico de Basto, aquele concelho que quase não tem poder de compra.

Depois a engenheira alimentar Raquel Castello Branco não tem culpa nenhuma se ser irmã do Dr. Álvaro Castello Branco e deste ser, por ironia do voto e desdita do destino, presidente da Assembleia Municipal do Porto, eleito pelo mesmo partido do vereador. Simples casualidade, porque ninguém combinou nada, aconteceu, não vão para aí estar a pensar em apitos dourados. Podia de facto a senhora chamar-se Rachel, se fosse brasileira. Podia ser irmã do visconde da quinta. Mas não é. É engenheira alimentar, especializou-se na cultura da beterraba na horta da freguesia do Bonfim, está apta. É maledicência insinuar que engenharia alimentar não tem a ver com cultura e que a bota não diz com a perdigota. Simples despeito, que neste caso concreto o vereador até solicitou referências ao presidente da distrital do seu partido. Que, nada tendo sido combinado e por mera casualidade, é o presidente da assembleia municipal que é irmão da nova directora da Culturporto. E que culpa tem ela? Ela não pediu para nascer, não escolheu os irmãos, não quis ser engenheira alimentar, nunca se imaginou a colher molhos de grelos no sítio de Mija Velhas. Mas aconteceu, foi o destino. Bem! E a competência, o interesse concelhio, a dedicação do vereador António Sousa Lemos.

Por mim tenho pena dos habitantes da freguesia do Bonfim, ao sítio de Mija Velhas. Sem culpa nenhuma vêem-se privados, de um momento para o outro, de quem lhes orientava a cultura da horta. A freguesia vai ressentir-se. Sobretudo a campanha de alfabetização de adultos!

P.S . (que aqui figura por "post scriptum") - Lamentavelmente e por evidente centralismo mouro, o jornal não tem em linha a crónica de Jorge Marmelo. A marmelada já este a anunciara, não precisava de nenhuma ajuda do comentador da RTP e, a tempo parcial, director desta publicação sulista, elitista e liberal!

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