18 de fevereiro de 2005

A intoxicação

O dia amanheceu cinzento. Varrido pelas nuvens baixas e pelo nevoeiro denso das sondagens dispondo sobre os resultados das eleições que hão-de ser. Soprando como vento em redemoinho, forte e sem sentido determinado, rodando como galinha tonta, oscilando como os propósitos patrióticos dos políticos medíocres que conduzem o país. Sete, segundo ouvi na TSF, onde um comentador político se pronuncia como se pilotasse uma aeronave sem instrumentos de navegação e sem ver a pista. Como no jogo da lerpa, vai lá no escuro, mesmo sem ter trunfo e sem ainda conhecer a mão.

Todas elas são exercícios erráticos de ciências ditas sociais. Carregando a exactidão da dízima infinita e o rigor austero do governo do Dr. Santana. Todas encomendadas por alguém e ostentando a mesma isenção com que se comporta o independente ministro Bagão. E ninguém acredita que o Sporting tenha corrido a contratar um avançado para, na próxima época, chegar ao Funchal e perder com o Marítimo apenas por dois a zero. Contrata-se alguém ou alguma coisa para ganhar, não para perder por menos ou para perder por poucos.

Todas as sondagens, ao que parece, escalam pela mesma ordem os dois partidos mais votados. Com maior ou menor diferença entre eles. Depois, daí para baixo, é a alternância como na superliga. Quem está em terceiro aqui surge em quinto acolá e inversamente. Mestre-escola que traiu a vocação, o Dr. Portas, a alimentar-se a pescada cozida com legumes para aí há seis meses, explica o que as sondagens significam. O povinho, pouco que as euforias já foram há trinta anos, benze-se e pasma com a sabedoria e a inteligência de rapaz tão novo, que ainda nem casado é.

Sugerem-se eminências pardas de maiorias absolutas, mais ponto, menos ponto. As maiorias absolutas são o paradigma do espírito antidemocrático: quem as obtém cilindra os adversários e sacrifica os seus apoiantes. Entrega-se ao regabofe e à ditadura constitucional de quatro anos. Vai empregar, a bem do aumento da despesa pública e da redução do défice, "boys" e "girls", rapazes e raparigas, militantes e simpatizantes sem oposição. Politizar ministérios, secretarias de estado, direcções gerais , lugares de carteiros dos correios e varredores das autarquias do Portugal profundo. Para esse peditório nunca dei, para esse peditório também não vou dar desta vez. A bem da convivência civilizada, a bem do interesse colectivo. A bem do país e não da quadrilha!

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