Pelo Porto
Por uns momentos e por diferente razão voltemos ao acto eleitoral de ontem. Apenas por causa do concelho do Porto. Aparentemente a circunstância passou despercebida, mas não deixa de ser espelho da realidade. Entre 2002 e 2005 o Porto perdeu 7.249 eleitores, correspondentes a 3 por cento do eleitorado. A comparação, freguesia a freguesia, consta do quadro acima. A variação, em termos absolutos, vai de um aumento de 34 eleitores em Ramalde a um decréscimo de 1.254 no Bonfim. Em termos percentuais o crescimento é de 0,1% em Ramalde e o decréscimo maior de 12,8% na Sé.
Tanto se tem falado na Porto Vivo, no Metro na Avenida da Boavista, no Palácio do Freixo que muito mais - e muito mais importante - se tem deixado passar como se fosse uma circunstância menor. A Porto Vivo é apontada como a solução miraculosa que a vereação tirou da cartola e a reconstrução - ou o neologismo requalificação - anuncia-se de imediato para a Praça de Carlos Alberto. A bem da indústria da construção civil, do ajuste directo e da especulação imobiliária.
Mas as pessoas, creio eu, sempre precederam as cidades. São as pessoas que as constroem e não o inverso. Em Carlos Alberto, e genericamente na área a abranger pela Porto Vivo, as pessoas serão escorraçadas do seu poiso de muitos anos, sem garantias de regresso. Como se fosse Esparta, o Porto decreta o desenraizamento dos seus habitantes, aumenta-lhes a depressão, apressa-lhes a morte. O Porto que é uma cidade velha, decrépita, ao abandono. Os prédios em ruínas estão por aí, de Santa Catarina a Sá da Bandeira, do Bonfim a Santo Ildefonso, da Sé a Cedofeita.
Não sendo sociólogo e não tendo pretensões, o primeiro problema do Porto é uma questão de demografia. É, depois disso, uma inumerável série de décadas de abandono, sem cuidados primários e sem preservação. O Porto, tal como está e se tiver o mínimo de bom senso, envergonha-se de ser património mundial. E tem razões para isso. As obras são de fachada, pagas com o dinheiro dos contribuintes como gostam de dizer os políticos. Enquanto se ultima a Casa da Música deixa-se que as Fontaínhas vão pela ribanceira abaixo.
Não sou entendido no assunto e não tenho responsabilidades políticas ou sequer profissionais que se relacionem com isto. Mas respeito o meu passado, venero as minhas origens, orgulho-me de quem teve a visão de mandar abrir as ruas por onde me passeio ou plantar as árvores a cuja sombra se acolhem, no Verão, sexagenários grupos de sueca. Por isso me dói tanto a destruição e o abandono daquilo que é património colectivo. Daquilo que, de facto, deveria ser respeitado como património mundial.
Post scriptum (à cause des mouches!) - o nosso vizinho O Vilacondense, que visitamos diariamente e que tomámos a liberdade de incluir num grupo de "links" com o sub-título "Praça Nova", deu-se ao cuidado de fazer esta mesma comparação em relação aos concelhos limítrofes do Porto. Onde o número de eleitores, no mesmo período, invariavelmente aumentou. O que permite consolidar as conclusões deste "post" e, eventualmente, extrair outras. Também concludentes!
3 Comentários:
"Em Carlos Alberto, e genericamente na área a abranger pela Porto Vivo, as pessoas serão escorraçadas do seu poiso de muitos anos, sem garantias de regresso."???...
Se, por exemplo, um qualquer anónimo morasse há 40 ou 50 anos numa casa meio degradada e tivesse 70 ou 80 anos sentir-se-ia escorraçado mesmo quando o "realojassem" na suite presidencial de um cinco estrelas da Av. da Boavista!
Quanto à ambiguidade dos três pontos de interrogação aparentam uma questão. Apreciaria muito mais do que isso a correcção e o esclarecimento sobre o que está insuficiente ou incorrectamente dito.
Já o "anonymous" é perfeitamente irrelevante.
E em Vila Nova de Gaia? Como foi a votação? Por acaso sabes? Jinhos :-)
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