Dever cívico
Quer dizer, salta um gajo cedo da cama ao sábado, como sacrílego, atira-se à auto-estrada do norte quase de madrugada, aquieta-se ao ruído monótono dos pneus comendo asfalto e às muitas manchas amarelas que as acácias floridas espalharam na paisagem. Sai em Fátima, desce a Ourém, almoça e sobe de novo a serra para o petisco que engane o burguês hábito da janta e para a pernoita. Corre ao santuário que a noite está fria mas sem vento, atravessa ruas desertas, mira vitrinas fechadas, depara com a capelinha ao abandono de peregrinos. Acende duas velas como contributo para a iluminação do recinto e como prece por um país que medre e pelos amigos que acreditam.
Retorna hoje ao percurso de regresso, com a auto-estrada vazia de excursões para o estádio do Restelo. Acelera, pisando o pedal e a concentração, que este sol na tromba, vindo do lado esquerdo, é mais traiçoeiro que uma emboscada patrulha da brigada de trânsito. Corre a cumprir aquilo a que chamam dever cívico, depois de ter recebido, via SMS, a sacrossanta inspiração como se fosse uma voz de comando a mandar apresentar armas. E chega a esta mui nobre, leal e sempre invicta cidade. Vai à Avenida Camilo, àquilo que foi o Liceu de Alexandre Herculano, onde se concentram não sei quantas mesas de voto da freguesia do Bonfim. A trapalhada é indiscritível, automóveis a monte, condutores a buzinar com a digestão por fazer e a azia a subir-lhes até à boca, arrumadores com que o Dr. Rio tinha acabado todos repescados, ocupadíssimos, hoje é mais caro doutor, com sua licença não aceito moedas dessa cor, pode por aqui, em cima do passeio, de esguelha, direito, atravessado, como lhe der mais jeito. Não se preocupe, não há polícia, se houvesse já nos tinha corrido como perigo público.
Nas traseiras da Câmara, em plena Praça da Trindade, nas barbas de toda a vereação, a cena é a mesma. A freguesia é que é a de Santo Ildefonso: histórica, deserta, decrépita. Nenhuma ordem por perto, a não ser a da Santíssima Trindade. A polícia? Descansa! Esfalfou-se durante toda a semana a bloquear automóveis e a multar os descuidados dos parcómetros, isso é que dá o guito. O resto? Como dizia o Pedroto: tudo a monte e fé em Deus. Porque se não houvesse fé tinha deixado o dever cívico para as calendas!
Retorna hoje ao percurso de regresso, com a auto-estrada vazia de excursões para o estádio do Restelo. Acelera, pisando o pedal e a concentração, que este sol na tromba, vindo do lado esquerdo, é mais traiçoeiro que uma emboscada patrulha da brigada de trânsito. Corre a cumprir aquilo a que chamam dever cívico, depois de ter recebido, via SMS, a sacrossanta inspiração como se fosse uma voz de comando a mandar apresentar armas. E chega a esta mui nobre, leal e sempre invicta cidade. Vai à Avenida Camilo, àquilo que foi o Liceu de Alexandre Herculano, onde se concentram não sei quantas mesas de voto da freguesia do Bonfim. A trapalhada é indiscritível, automóveis a monte, condutores a buzinar com a digestão por fazer e a azia a subir-lhes até à boca, arrumadores com que o Dr. Rio tinha acabado todos repescados, ocupadíssimos, hoje é mais caro doutor, com sua licença não aceito moedas dessa cor, pode por aqui, em cima do passeio, de esguelha, direito, atravessado, como lhe der mais jeito. Não se preocupe, não há polícia, se houvesse já nos tinha corrido como perigo público.
Nas traseiras da Câmara, em plena Praça da Trindade, nas barbas de toda a vereação, a cena é a mesma. A freguesia é que é a de Santo Ildefonso: histórica, deserta, decrépita. Nenhuma ordem por perto, a não ser a da Santíssima Trindade. A polícia? Descansa! Esfalfou-se durante toda a semana a bloquear automóveis e a multar os descuidados dos parcómetros, isso é que dá o guito. O resto? Como dizia o Pedroto: tudo a monte e fé em Deus. Porque se não houvesse fé tinha deixado o dever cívico para as calendas!
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