Mercado do Bolhão

No despejo dos comerciantes foi mais expedito do que a Polícia Municipal na vigilância das ruas e até mesmo do que aquele célebre pistoleiro dos bonecos que era mais rápido no disparo do que a própria sombra. Foi além disso magnânimo e previdente, salientando que, mais que a cidade e as suas freguesias, todo o país deveria ter aprendido com o desastre de Entre-os-Rios. Previdente e calculista disse querer evitar idêntica tragédia. Especialmente agora, que a chuva é farta e que o telhado do lado sul poderia não resistir à passagem de uma qualquer camioneta de passageiros, alugada para uma excursão à Quinta do Covelo. Cuidou do decente alojamento dos despejados, autorizando-os benemeritamente a ocuparem os vãos de escada, a sombra dos candeeiros de iluminação pública ou a amontoarem-se no lado norte, como prisioneiros árabes no campo de Guantanamo.
Justificou a brevidade do despejo com a urgência do início das obras, agora que o Metro do Porto tem quase consumada meia demolição. E revelou que as mesmas deverão ter início dentro de um ano. Um seu vereador, que sonha vir a ser presidente e ostentar ao pescoço a concha de escanção, à proporção da ambição, anunciou que por ele se iniciarão dentro de seis meses e estarão prontas ainda antes disso.
Disse que o custo das obras se estimava em 15 milhões de euros. Que é apenas uma cifra, assim a modos do somatório dos jackpots do euromilhões: a gente nem imagina quanto é que aquilo é, mas sabe que pode sempre crescer ao ritmo da capacidade política de quem dirige. E contra o conteúdo das contas de merceeiro que, na condição de guarda-livros, manda depositar abusivamente nas caixas de correio dos portuenses, revelou que a Câmara não tinha dinheiro para essas obras. O que não é novidade para ninguém: a autarquia estava falida mesmo que pintada de rosa, continua falida mesmo que esborratada de cor de laranja, com um traço a vermelho na esquina que dá para os Fenianos.
Não havendo dinheiro, as obras de restauro passarão para a Porto Vivo cujos capitais, se os houver, são pertença de investidores privados, apenas obedecendo à tutela liberal da economia e do engenheiro Ludgero Marques, como se sabe. De forma que já se imagina o engenheiro Belmiro de Azevedo a vender batatas nas freguesias da Senhora da Hora e de Santa Marinha e a promover o realojamento de comerciantes da freguesia de Santo Ildefonso num renovado Mercado do Bolhão. E a disponibilidade do senhor Salvador Caetano, apesar da idade, para receber alguns a que não calhe banca, na freguesia de Avintes. Onde mandará que lhes sirvam broa, da autêntica, com uma caneca de verde tinto a acompanhar.
Espera-se é que o Dr. Rio, por passagem compulsiva à situação de reforma, não volte a terreiro acompanhado do seu "dream team" que não consegue concretizar um lance livre e muito menos transformar um lançamento de três pontos. E que não venha depois com as suas ideias elitistas de apenas permitir que ali se comercializem galináceos depenados na Isabel Queirós do Vale e portadores de diplomas emitidos pela Faculdade de Economia.
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