O sortilégio do 3
O sortilégio do 3, humildemente como algarismo ou arrogantemente nobre como número, é facto que se perde na poeira dos tempos. É mais velho do que eu e eu, asseguro-vos, já tenho uns anos. Menos, é certo, que o senhor Eça de Queirós e mais, creio eu, que a D. Margarida Rebelo Pinto. Escrevendo incomensuravelmente pior do que o primeiro e ganhando, injustamente, muito menos do que a segunda. Mas quanto ao sortilégio do 3, é segundo parece, mesmo mais antigo do que D. Afonso Henriques que ainda o escrevia com 3 pauzinhos erectos - salvo seja! - a que os antropólogos chamam hoje numeração romana. E anterior até a um antepassado de um qualquer aprendiz das técnicas do terrorismo e das doutrinas do Islão.
O 3 começa, e acaba, por estar em tudo. No que se desdenha, no que se ignora e no que se celebra. Na juventude da minha avó, ou no tempo em que os animais falavam, que vai dar ao mesmo, comentava-se como pecado sem remissão que a filha da vizinha já tivesse perdido os três. Os três vinténs de dote com que o senhor seu pai a presenteara para conseguir marido honrado e varão, é claro. Em tempos de crise e de transição a questão foi literalmente menosprezada. A revolução industrial e as teorias do senhor Karl Marx e dos ascendentes do senhor Herman José nem pouco mais ou menos se preocuparam com isso. Ah! Ainda tem os três, e daí? Ah, já os não tem, e que me importa isso? Serviam para alguma coisa? Nos tempos que correm comenta-se em altos berros e em tom de injúria: o quê? Não me digas! Ainda tem os três? Os 3 por cento da taxa de juro do crédito à habitação, concedido pelo BES, ao abrigo do verde-futuro, dos lucros do grupo e da redução do défice. Naturalmente!
Até o senhor primeiro-ministro, rodeado por sistemas de informação e de Patilhas e Ventoinhas por todos os lados - excepto por um, como se recordam, que é o istmo! - está irremediavelmente prisioneiro do 3 e do respectivo sortilégio. Não que se comente, na praça pública ou sequer na Rua Gomes Teixeira ou na Assembleia, que os tem, os teve ou os deixou de ter. Tem-se-lhe, estranhamente, respeitado a privacidade e dado certo liberalismo às simples questões de economia doméstica para os seus investimentos ou para a alienação do seu património pessoal. Mas o governo a que preside anunciou 333 medidas - nada menos! - para reduzir a burocracia, agilizar - um termo erudito que nem o senhor Eça de Queirós conhecia! - os serviços públicos e levar o país a ser o terceiro, a contar do fim, entre os mais desenvolvidos da União Europeia como, há três anos, era propósito do senhor José Manuel Barroso e da sua família, composta por 3 elementos, além dele próprio, que não conta.
Reparem bem: 333 medidas. Não são nem 332 nem 334, são 333! Três algarismos 3, dispostos lado a lado como correligionários do mesmo partido ou trigémeos verdadeiros. Nem parentescos colaterais nem compadrios suspeitos, como acontece com a formação do governo e a nomeação dos gestores públicos, observando rigorosos critérios de competência e de honestidade. Mais! Anunciadas rigorosamente às cinco da tarde que, como se verifica, é exactamente duas horas depois das três. E dois não é mais do que três menos um. Sendo certo que um é cabalisticamente a diferença entre três e dois. E a dois, como se viu atrás, basta somar-se-lhe um para que dê três! E até os quatro pontos cardeais - diz-se que o Zezinho respondia à sua professora antes do governo decretar o encerramento da escola! - são três: norte e sul!
O 3 começa, e acaba, por estar em tudo. No que se desdenha, no que se ignora e no que se celebra. Na juventude da minha avó, ou no tempo em que os animais falavam, que vai dar ao mesmo, comentava-se como pecado sem remissão que a filha da vizinha já tivesse perdido os três. Os três vinténs de dote com que o senhor seu pai a presenteara para conseguir marido honrado e varão, é claro. Em tempos de crise e de transição a questão foi literalmente menosprezada. A revolução industrial e as teorias do senhor Karl Marx e dos ascendentes do senhor Herman José nem pouco mais ou menos se preocuparam com isso. Ah! Ainda tem os três, e daí? Ah, já os não tem, e que me importa isso? Serviam para alguma coisa? Nos tempos que correm comenta-se em altos berros e em tom de injúria: o quê? Não me digas! Ainda tem os três? Os 3 por cento da taxa de juro do crédito à habitação, concedido pelo BES, ao abrigo do verde-futuro, dos lucros do grupo e da redução do défice. Naturalmente!
Até o senhor primeiro-ministro, rodeado por sistemas de informação e de Patilhas e Ventoinhas por todos os lados - excepto por um, como se recordam, que é o istmo! - está irremediavelmente prisioneiro do 3 e do respectivo sortilégio. Não que se comente, na praça pública ou sequer na Rua Gomes Teixeira ou na Assembleia, que os tem, os teve ou os deixou de ter. Tem-se-lhe, estranhamente, respeitado a privacidade e dado certo liberalismo às simples questões de economia doméstica para os seus investimentos ou para a alienação do seu património pessoal. Mas o governo a que preside anunciou 333 medidas - nada menos! - para reduzir a burocracia, agilizar - um termo erudito que nem o senhor Eça de Queirós conhecia! - os serviços públicos e levar o país a ser o terceiro, a contar do fim, entre os mais desenvolvidos da União Europeia como, há três anos, era propósito do senhor José Manuel Barroso e da sua família, composta por 3 elementos, além dele próprio, que não conta.
Reparem bem: 333 medidas. Não são nem 332 nem 334, são 333! Três algarismos 3, dispostos lado a lado como correligionários do mesmo partido ou trigémeos verdadeiros. Nem parentescos colaterais nem compadrios suspeitos, como acontece com a formação do governo e a nomeação dos gestores públicos, observando rigorosos critérios de competência e de honestidade. Mais! Anunciadas rigorosamente às cinco da tarde que, como se verifica, é exactamente duas horas depois das três. E dois não é mais do que três menos um. Sendo certo que um é cabalisticamente a diferença entre três e dois. E a dois, como se viu atrás, basta somar-se-lhe um para que dê três! E até os quatro pontos cardeais - diz-se que o Zezinho respondia à sua professora antes do governo decretar o encerramento da escola! - são três: norte e sul!
4 Comentários:
E veja, todo mês eu tinjo meu cabelo com a cor 666 - que vem a ser o número da besta - mas no caso do meu cabelo é vermelha. Como o cabelo é muito curto, sobra sempre a metade. viu só? 333!!!
:) :) :)
Esta santa Pária pátria, onde hoje só vemos luzinhas e velinhas ...
Haja algum sentido de humor que o D. Sebastião, se calhar, ainda os 3 tinha. E eis que virá, impoluto, salvar o que resta do rectângulo à beira mar plantado.
Dias Felizes, muita prosa acutilante, deseja a
EP
Cool blog, interesting information... Keep it UP » »
Enjoyed a lot! »
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