No dia internacional da Mulher
Penso-te
o nome e enche-se-me o cérebro, sobram-me as ideias, desfaço-me em ternura,
transforma-se-me a vida num conjunto aberto de convicções. Penso Mulher e desde
logo Mãe, a primeira, a maior, a mais nobre das funções de que te vestes. E,
como se isso fosse preciso, chega-me a memória e a saudade da minha, os olhos
que se me toldam, rasos de água, o corpo franzino, a energia desmesurada, o
trajecto longo, a vida tão ingratamente cheia de espinhos sem o perfume das
rosas. E todas Mães, nobres, compreensivas, complacentes, protectoras. Com
todas as maldades que todos sempre lhes fizemos, inconscientes e ignorantes, os
cabelos desalinhados, as saias puxadas, o caldo entornado, a irritação a que
cedes por momentos. Depois da pequena tempestade sempre a bonança infinita.
Penso
Mulher e desde logo Companheira. Com cerimónia ou sem ela, os relacionamentos
não são fruto de papéis, escrituras, rezas e tabeliões. São mais fruto da
amizade e da compreensão cúmplice que nos mora na profundidade do olhar, verde
ou castanho, azul marinho até para lá do farol que assinala o início de tudo o
que partimos a descobrir, com a verdade por destino. Os ombros que se alinham,
as mãos que se dão, os passos que se caminham pela vida, dar e receber, entrega
e partilha, qual de nós sou eu, até onde me sou, se transbordas para lá do meu
horizonte. Somos um, qualidades e defeitos, sonhos e aspirações, cabeça e ombro
que se alternam, duas lágrimas e um sorriso. Uma vida cheia de esperança e de
futuro.
Penso
Mulher e desde logo Amante. O infinito que começa nos olhares que se cruzam, as
palavras que se calam, os gestos que se dispensam, os corpos de que
prescindimos para sermos apenas um, diferente e igual, só beijos e ternura, a
entrega que é tão toda como se não fosse nenhuma, tão apertado abraço, apenas o
arco-íris nas fronteiras do paraíso, o céu é como o amor que nos une, não tem
limites, não principia nem acaba. Vinte poemas de amor e uma canção! Uma casa
debruçada sobre o oceano, as ondas a morrerem-nos nos pés descalços. A silhueta
de Neruda espalhada pelos Andes abaixo, até nós.
Penso
Mulher. Hoje, um dia se o ano tem muitos, todos teus de pleno direito, sem
simbolismos e diferenças que te diminuam. Mas trago-te um ramo de rosas
vermelhas, o veludo do amor que me amacia e me aquece o peito. Este todo que te
entrego, de alma e coração, hoje e todos os dias para além dele. Sejas Mãe, sejas
Companheira, sejas Amante!
2 Comentários:
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