O “erro” que se adivinhava
Como
se sabe o senhor Silva não é uma inteligência brilhante. Mas é uma esperteza
saloia. E isso sabe-se também desde que, para fazer a rodagem a um automóvel
novo, escolheu o percurso de Boliqueime à Figueira da Foz, que era o que ficava
mais à mão e que ele conhecia como as palmas das mãos, desde os tempos de
escola. E sabe-se que regressou, assobiando o tia anica de loulé, investido nas
funções de régulo por mais de 10 anos e palhaço para subir a coqueiros e ignorar
barreiras para a vida toda, sem nenhumas dúvidas e com muito raros enganos.
Na
lista de honra dos seus amigos, afilhados, compadres e protegidos está a nata
da alta finança, do empreendedorismo (seja lá isso aquilo que for) e do
banditismo nacional. O homem, que tem com a língua pátria a mesma relação
afectiva que tem com uma fatia de bolo-rei, descobriu agora, no morno remanso
de um serão para que todos contribuímos, como se ele fora mais do que o rei de
Espanha, a sua preclara vocação para a linguística e certamente para o estudo
do professor Lindley Cintra. E tanto assim que consuma um golpe de estado de
sacristia, pela simples troca de uma vogal, pela qual terá sido responsável o
descuido da Imprensa Nacional e a miopia de um revisor de provas.
Sendo
que, todavia e racionalmente, não recolhe da serôdia vocação mais do que a
esperteza saloia que já exibia na insuficiência da pensão de reforma que lhe atribuíram
para pagamento das despesas da barraca da aldeia da Coelha. Mas os titulares dos orgãos de soberania do país
não são flor que se cheire. Sabe-se que não são competentes e que não têm
vergonha, atributos corriqueiros. Seria demasiado esperar que fossem mais
honestos do que Duarte Lima ou Dias Loureiro, dois dos afilhados predilectos do
incrível senhor Silva. Que acaba, literalmente, de tirar mais um coelho da
cartola. O morcão!
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