22 de janeiro de 2013

Kunhangama


No fim da picada, depois das casas de tijolos, dos kimbos todos misturados no meio delas e só mesmo dos kimbos sozinhos, está o rio no lugar dele. Nome dele Ribeira da Granja, nome de branco, os mais velhos diziam mesmo era kunhangama, se esta minha cabeça em cima do meu pescoço ainda não deu para não deslembrar. Tem pedras no meio, pouca água, não precisa nem molhar os pés mas se quer aproveita e pode lavar os pés e a chipala. Alguns até que aproveitam e lavam a camisa, tem sol e vento, pendura num caniço, fica seco com depressa. Só precisa mesmo ter um bocado de sabão, lava melhor.

A última casa era essa onde morava o senhor Jaime mecânico, tudo junto com a senhora dele, a menina e o menino Joca, a senhora sempre a lhe chamar para voltar em casa quando começava de ficar escuro e ele sem responder nada, uma pressão de ar de matar catuitis e bicos de lacre sempre em cima das costas, até que não conseguia de acertar nada, não tinha pontaria, desconseguia sempre. O senhor Jaime ficou doente, nem sékulo que já era, foi no puto, não voltou mais, falaram que tinha morrido, os kimbandas de lá desconseguiram o conserto. Ninguém que lhe fez o óbito, bom branco que ele era com tanto amigo que tinha, coitado. Ninguém para chorar, nada para beber, tudo a dormir como se amanhã ele voltasse na oficina dele, um óbito como deve ser, nem um garrafão de vinho.


Logo a seguir o rio fica escondido com os bagres no meio dos caniços, as pessoas nem dá para ver onde tem água e onde tem capim. Nas tardes de domingo que ficavam de descanso, com falta das pratas para um meio litro de cachipembe, que chega ao coração e sobe na cabeça, muito que fiquei sentado ali mesmo, no meio do caniço, quieto, muito calado, um caniço na mão, com um fio, uma rolha de bóia, um anzol e uma minhoca. Tudo dentro de água à  espera da fome do bagre querer comer a minhoca, a mexer toda na ponta do anzol.

Naquela tristeza de não ter nada para matar a minha fome de beber, com os bagres na vida deles, eu calado como era para não acordar o patrão, cada vez adiantava dormir também sentado em cima do capim, as casas e o trabalho tudo na minha trás. Mas um dia pesquei um grande, assim deste tamanho, nem sei como consegui de lhe tirar para fora da água, no meio dos caniços, o corpo dele sempre a lutar comigo para voltar lá na casa dele. Mas desconseguiu. Fui em casa, à noite bati o funge com o luiko, a senhora me ensinou como fazer com o bagre, comi-lhe assado em cima do fogo, melhor que peixe seco! Pena que não tinha nem meio litro de vinho para lhe beber com ele!

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