No meu país
O
meu país não tem nome mas é doce e fica à beira mar. Um mar sereno e chão, sem
ondas e sem marés, que se espalha por areias de veludo. Onde árvores de folha
fina se espreguiçam por entre o nevoeiro tranquilo e morno que arrasta consigo
o sol das manhãs. O meu país não tem geografias, fica algures entre o polo
norte e o polo sul, a que as convenções não atribuiram sentido, nem distância,
nem meridianos. Não se usam nem réguas, nem transferidores nem outros
instrumentos que sirvam para determinar os rios que falta transpor para chegar
ao fim.
O
meu país não tem princípio nem fim, não começa nem acaba. Não há animais
ferozes nem mecenas que financiam a morte com livros inúteis e obras de arte
feitas em cartpintarias e penduradas em paredes lisas, rigorosamente verticais
como a queda de meteoritos do infinito. Infinito é mesmo infinito, sem símbolos
matemáticos que o representem e sem olhares longos que o encurtem para cá dele próprio.
Não há triângulos, nem teoremas de Pitágoras, nem geometrias variáveis. Nem
fusos horários, nem sol da meia noite, nem civilizações incas, nem viagens de
circun-navegação.
O
meu país não tem símbolos nem alfabetos com que se escreva amor. Nem
ferramentas com que ele se grave no granito dos promontórios. Todos os navios
largaram da amarração dos portos e se
perderam para lá do horizonte, sem lemes e sem bússolas. E os portos são
miragens por inventar, que espalham a espuma do mar pelas praias, sem cruzeiros
e sem rotas. Onde os peixes chegam à deriva das correntes, a comer à mão de
quem há-de alimentar pássaros sem nome, em praças sem limites e sem tabuletas
penduradas nas esquinas.
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