27 de novembro de 2012

No meu país


O meu país não tem nome mas é doce e fica à beira mar. Um mar sereno e chão, sem ondas e sem marés, que se espalha por areias de veludo. Onde árvores de folha fina se espreguiçam por entre o nevoeiro tranquilo e morno que arrasta consigo o sol das manhãs. O meu país não tem geografias, fica algures entre o polo norte e o polo sul, a que as convenções não atribuiram sentido, nem distância, nem meridianos. Não se usam nem réguas, nem transferidores nem outros instrumentos que sirvam para determinar os rios que falta transpor para chegar ao fim.

O meu país não tem princípio nem fim, não começa nem acaba. Não há animais ferozes nem mecenas que financiam a morte com livros inúteis e obras de arte feitas em cartpintarias e penduradas em paredes lisas, rigorosamente verticais como a queda de meteoritos do infinito. Infinito é mesmo infinito, sem símbolos matemáticos que o representem e sem olhares longos que o encurtem para cá dele próprio. Não há triângulos, nem teoremas de Pitágoras, nem geometrias variáveis. Nem fusos horários, nem sol da meia noite, nem civilizações incas, nem viagens de circun-navegação.


O meu país não tem símbolos nem alfabetos com que se escreva amor. Nem ferramentas com que ele se grave no granito dos promontórios. Todos os navios largaram  da amarração dos portos e se perderam para lá do horizonte, sem lemes e sem bússolas. E os portos são miragens por inventar, que espalham a espuma do mar pelas praias, sem cruzeiros e sem rotas. Onde os peixes chegam à deriva das correntes, a comer à mão de quem há-de alimentar pássaros sem nome, em praças sem limites e sem tabuletas penduradas nas esquinas.

No meu país não se sabe o que é a fome, que tanto mata como enfarta. No meu país o amor está escrito no olhar brilhante das crianças, sem necessidade de lhes ensinar o nome e o significado. E a fome está para além de todos os destinos, à sombra da noite que o sol varreu da astronomia. A esperança está para cá de todas as portas que se removeram, sem urgência nem cor. Mas pode ver-se na pele lustrosa das crianças que trazem o amor faiscando no olhar

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