29 de outubro de 2012

Refundação


Sem acordo ortográfico, pelo Dicionário Complementar da Língua Portuguesa, de Augusto Moreno, 9ª. edição, fundação é o acto ou efeito de fundar; princípio; origem; instituição; criação; alicerce; litígio. Refundação, lamentavelmente, não figura, o que denuncia a natureza popular do ensina burros, que não atinge a erudição natural de Aveiras de Cima, ou de Baixo, dos licenciados por equivalência ou dos patriotas por vocação ou por desígnio superior e divino. Mas inexplicavelmente figuram refinar, reflexo, refluir, refogado, refolhado, reformado (em vias de extinção), reformatório, refractário, refresco, refugo, refúgio, refundição e regateiro, entre outros.

Com acordo ortográfico, pelo Dicionário Editora da Língua Portuguesa 2010, de autor incógnito ou tímido, fundação é o ato ou efeito de fundar; origem; princípio; parte de uma construção destinada essencialmente a distribuir as cargas sobre o terreno; alicerce; ato de criar; por doação ou testamento, uma instituição de interesse público e sem fins lucrativos (extinta; hoje é para recolher fundos do estado); instituição criada dessa forma. Refundação, de novo lamentavelmente, volta a não figurar, o que justifica a natureza rasa e anónima do dicionário, que não atinge a erudição das mansões fortificadas da Boca do Inferno, dos apreciadores de lagosta suada ou dos patriotas por vocação ou por desígnio superior e divino. Mas figuram refulgir, refundição, rega, regalia, regalar, regateiro, regedor e regiamente, por exemplo.


O que, desde logo, faz do Dr. (por antiguidade?) Passos Coelho um criador da língua portuguesa, não galardoado com o Prémio Camões como Luandino Vieira que, por desígnio pessoal e terreno, o recusou com humildade. E, mais do que isso, justifica a manifestação pública de ignorância do Dr. (também por antiguidade?) Tozé Seguro que se viu na necessidade de solicitar esclarecimentos e procurar explicador para saber o que raio quer o palavrão dizer. Tanto mais que o seu criador tem o milimétrico cuidado de salientar, a bem do rigor da governação e da credibilidade da linguística, que não se trata de nenhuma renegociação do acordo de ajustamento, etc, etc, etc., mas exatamente da refundação do acordo de ajustamento, etc, etc, etc. O que, tirando o etc, deve dar rigorosamente no mesmo.

Mas parece claro que o Dr. Coelho se quer inspirar em D. Afonso Henriques, ainda hoje considerado nos arredores de Guimarães como o fundador da nacionalidade, para voltar a fazer tudo de novo, e bem feito como deve fazer o estado que dele regorgita. Desde os mais pequenos e insignificantes pormenores, como rebater na mãe, refundar a nacionalidade una e indivísivel do Minho a Timor, reconquistar Lisboa aos mouros (com o auxílio dos cruzados e do Sr. Pinto da Costa), redescobrir o caminho marítimo para a Índia e para a Fuzeta (via praia do Vau), ressuscitar o Sr. Conde de Oeiras (não confundir com o exemplar reautarca Isaltino Morais) e o Sr. Marquês de Pombal, rejulgar os Távoras e reenforcá-los sem dor e sem perda de tempo.

E, além disso, com o voluntarioso auxílio do Álvaro, do ministro das finanças e da troika, refundar-nos a todos, felizes para sempre, sem desemprego, sem miséria, sem fome e sem condições para criar e educar os filhos. E sem necessidade de os embarcar no bojo das galeras a caminho da emigração e da subsistência. Refundados mas felizes!

1 Comentários:

Às 11:18 da tarde , Anonymous André Freitas disse...

Eu dou-lhe uma ajuda:

Refundação: "acto ou efeito de refundar."
http://www.priberam.pt/DlPO/Default.aspx?pal=refundação

Refundar tem dois significados diferentes, mas um deles é: "tornar a criar, a estabelecer algo".

http://www.priberam.pt/dlpo/Default.aspx?pal=refundar

De nada.

 

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