O imbróglio
Uma
segunda feira, já por si, é um imbróglio de todo o tamanho. A menos que seja
verão, se pertença ao reduzido número de privilegiados que, mesmo com
portagens, se deslocam para o Allgarve do Dr. Pinho e se estendam ao sol, de
papo para o ar, a trabalhar para o bronze. Mas com a chegada do outono o tempo
despe-se da canícula, ganha instabilidade e, como hoje e aqui, mascara-se de um
cinzento invernoso e fresco que ampliam o imbróglio. E, a seguir a um fim de
semana prolongado, em que o senhor Silva enterrou a República com um elogio
fúnebre capaz de fazer chorar o mais
empedernido gato pingado, a segunda feira é mais do que um imbróglio. É um dia
filho da puta, com a gente a digerir a inutilidade do discurso do Silva e a sua
atitude complacente e altruista de revelar, longe e em voz baixa, que o povo
deve ser ouvido. Sem que se saiba o que ele entende por povo e, menos ainda,
sobre que assuntos se lhe deve auscultar
a opinião. Se é que ele acha que de facto deve!
E
no meio de coisas tão nacionalmente relevantes, tão importantes para o sucesso
financeiro que há-de ser o empreendimento do Pavilhão Atlântico e o pagamento
dos juros dos empréstimos que o governo mendiga de mão estendida, ainda há um
jornal apelidado de referência que não descobre melhor “cacha” do que
escarrapachar na primeira página: “Passos administrou empresa que cresceu com
fundos geridos por Relvas”. E remete para uma curta notícia, numa página
interior, o início tranquilo do campeonato nacional de voleibol, com o Sporting
de Espinho a impôr-se ao Caldas por três a zero, não fazendo a mínima
referência às possíveis atividades dos Passarinhos da Ribeira nem aos
respectivos resultados e ao comportamento, seguramente exemplar, dos seus
adeptos.
Não
imagino que circunstâncias levaram o editor a trazer um assunto de tal
normalidade e irrelevância para aquele local e, ainda, a dedicar-lhe as mais de
cinco páginas seguintes. É do conhecimento geral que ambos foram alunos
precoces e brilhantes, e só a modéstia dos próprios e famílias impediu que
fossem referidos como superdotados, que comprovadamente são. Que Passos Coelho
tenha sido consultor e administrador de uma qualquer empresa que açambarcou
contratos e fundos para projetos de formação profissional, não é assunto que
espante. Hoje ele é primeiro-ministro do país e mandatário da chanceler alemã e
ninguém se questiona sobre o assunto pu anda de boca aberta por isso. Pode
causar estranheza é que tenha sido consultor a recibos verdes e não tenha
reclamado da precaridade da situação. Sendo normal que se tenha esquecido de
ter sido administrador, seguramente pela ridicularia dos respetivos honorários.
De
Miguel Relvas falta dizer pouco ou mesmo nada, do tanto ou tudo que se disse
nos últimos tempos: um incorruptível e um patriota, no rigoroso conceito de uma
alta figura da magistratura. Notícia seria ele ter sido o forcado da cara do
grupo de amadores de Tomar, ter consumado vistosas pegas à primeira tentativa e
ter recusado a volta à arena, preferindo o anonimato da trincheira àss luzes da
ribalta. Ou mesmo agora, na condição de respeitável ministro, se ter
apresentado esta manhã na largada de Vila Franca de Xira, integrada na feira de
outubro, e ter deixado pela areia da rua o perfume da sua valentia.
Quanto
ao resto das pessoas envolvidas no imbróglio da empresa do Dr. Coelho e da
secretaria de estado do Dr. Relvas, nada de especial a assinalar. Que pode ter
de anormal o facto de todos terem sido elementos proeminentes da JSD? Não é
verdade que os amigos são para as ocasiões? E mesmo isso pode não significar muito.
Ainda ontem estiveram cerca de 39 mil espetadores no estádio do Dragão. Algo
permite associá-los ao empate que o Barcelona, também ontem, consentiu em casa
contra o Real Madrid? Ou dizer que o Sr. Mourinho foi o responsável pelos dois
penalties assinalados contra o Sporting na cidade do Porto?
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