8 de outubro de 2012

O imbróglio


Uma segunda feira, já por si, é um imbróglio de todo o tamanho. A menos que seja verão, se pertença ao reduzido número de privilegiados que, mesmo com portagens, se deslocam para o Allgarve do Dr. Pinho e se estendam ao sol, de papo para o ar, a trabalhar para o bronze. Mas com a chegada do outono o tempo despe-se da canícula, ganha instabilidade e, como hoje e aqui, mascara-se de um cinzento invernoso e fresco que ampliam o imbróglio. E, a seguir a um fim de semana prolongado, em que o senhor Silva enterrou a República com um elogio fúnebre capaz  de fazer chorar o mais empedernido gato pingado, a segunda feira é mais do que um imbróglio. É um dia filho da puta, com a gente a digerir a inutilidade do discurso do Silva e a sua atitude complacente e altruista de revelar, longe e em voz baixa, que o povo deve ser ouvido. Sem que se saiba o que ele entende por povo e, menos ainda, sobre  que assuntos se lhe deve auscultar a opinião. Se é que ele acha que de facto deve!

E no meio de coisas tão nacionalmente relevantes, tão importantes para o sucesso financeiro que há-de ser o empreendimento do Pavilhão Atlântico e o pagamento dos juros dos empréstimos que o governo mendiga de mão estendida, ainda há um jornal apelidado de referência que não descobre melhor “cacha” do que escarrapachar na primeira página: “Passos administrou empresa que cresceu com fundos geridos por Relvas”. E remete para uma curta notícia, numa página interior, o início tranquilo do campeonato nacional de voleibol, com o Sporting de Espinho a impôr-se ao Caldas por três a zero, não fazendo a mínima referência às possíveis atividades dos Passarinhos da Ribeira nem aos respectivos resultados e ao comportamento, seguramente exemplar, dos seus adeptos.


Não imagino que circunstâncias levaram o editor a trazer um assunto de tal normalidade e irrelevância para aquele local e, ainda, a dedicar-lhe as mais de cinco páginas seguintes. É do conhecimento geral que ambos foram alunos precoces e brilhantes, e só a modéstia dos próprios e famílias impediu que fossem referidos como superdotados, que comprovadamente são. Que Passos Coelho tenha sido consultor e administrador de uma qualquer empresa que açambarcou contratos e fundos para projetos de formação profissional, não é assunto que espante. Hoje ele é primeiro-ministro do país e mandatário da chanceler alemã e ninguém se questiona sobre o assunto pu anda de boca aberta por isso. Pode causar estranheza é que tenha sido consultor a recibos verdes e não tenha reclamado da precaridade da situação. Sendo normal que se tenha esquecido de ter sido administrador, seguramente pela ridicularia dos respetivos honorários.

De Miguel Relvas falta dizer pouco ou mesmo nada, do tanto ou tudo que se disse nos últimos tempos: um incorruptível e um patriota, no rigoroso conceito de uma alta figura da magistratura. Notícia seria ele ter sido o forcado da cara do grupo de amadores de Tomar, ter consumado vistosas pegas à primeira tentativa e ter recusado a volta à arena, preferindo o anonimato da trincheira àss luzes da ribalta. Ou mesmo agora, na condição de respeitável ministro, se ter apresentado esta manhã na largada de Vila Franca de Xira, integrada na feira de outubro, e ter deixado pela areia da rua o perfume da sua valentia.

Quanto ao resto das pessoas envolvidas no imbróglio da empresa do Dr. Coelho e da secretaria de estado do Dr. Relvas, nada de especial a assinalar. Que pode ter de anormal o facto de todos terem sido elementos proeminentes da JSD? Não é verdade que os amigos são para as ocasiões? E mesmo isso pode não significar muito. Ainda ontem estiveram cerca de 39 mil espetadores no estádio do Dragão. Algo permite associá-los ao empate que o Barcelona, também ontem, consentiu em casa contra o Real Madrid? Ou dizer que o Sr. Mourinho foi o responsável pelos dois penalties assinalados contra o Sporting na cidade do Porto?

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