Tratado sobre a ignorância
Com
todo o respeito que me merecem todas as coisas, mesmo as mais obtusas, o senhor
António Borges é uma coisa. Uma coisa esquisita, género aventesma, que há anos
se pavoneia por aí, ao serviço do FMI e da Goldman Sachs, flutuando sempre nas
bermas do poder político, exibindo uma bandeira desfraldada de oportunismo sem
regras e sem escrúpulos, desde que cheire a tachos por lavar ou a dólares já
lavados, e ser assim um género de Relvas com curso. Nunca assumiu
responsabilidades públicas, não se lhe conhecem ideias e nunca se lhe viu obra.
Diz quem sabe que nunca trabalhou, não sabe o que é pagar salários, que não
sabe o que diz – uma vulgaridade, aliás! - e que é um defensor convicto do
aperto do cinto dos outros, especialmente dos previlegiados que esbanjam em
telemóveis de última geração parte da fartura do sálario mínimo que,
generosamente, lhes pagam.
Com
a mesma superior e indiscutível competência propõe a venda da Caixa Geral de
Depósitos e o aprovisionamento da secção de legumes do Pingo Doce, com exceção
dos tomates. Nos negócios da saúde, de que também sabe tanto como o mais
celebrado neurocirurgião, vende em nome do país, compra em nome do grupo
Jerónimo Martins e financia a operação em nome da alta finança. Com a tripla vantagem
de arrecadar uns patacos num qualquer “offshore” onde os impostos não existam
ou apenas incidam sobre a tanga do desafogado indígena a quem sobram o sol e as
águas mornas de um mar sem calemas.
Por
este fim fim de semana, a fim de combater a crise, saborear uns salgadinhos e
dar ocupação aos necessitados hoteis de cinco estrelas, reuniu-se pelos
Allgarves um tal de forum empresarial para que foram convidados, também, o
ministro Relvas e a aventesma Borges. O primeiro, com propriedade, ética e inatacável
moral, citou Vergílio Ferreira – de que terá ouvido falar numa qualquer
equivalência – e advertiu para o risco de drescédito da classe política que,
com o seu exemplo e as suas patrióticas viagens a Angola, vem evitando. E
continuará a evitar, enquanto vergonha e fartar vilanagem forem sinónimos nos
dicionários escolares.
Borges
aproveitou para apresentar o seu tratado sobre a ignorância que já desde ontem
ocupa o “top” de vendas da Fnac, relegando António Damásio para o fim da lista,
atrás da D. Margarida Rebelo Pinto e da D. Fátima Lopes. Tratados como
ignorantes os empresários presentes lamentaram o encerramento das novas
oportunidades e o fim da campanha do Magalhães. E temem matricular-se na escola
do ministro sombra, que já lhes avaliou a inteligência, a classificou abaixo de
cão e lhes garantiu que, com ele, nunca passarão do primeiro ano. O
analfabetismo cresce de novo, os filhos temem pela ignorância dos pais, dispõem-se
a ajudá-los nas primeiras letras.
Feliz
do país que tem um Borges como assessor polivalente e inteligência brilhante.
Porque ter dois seria uma calamidade. Se ter um já é uma tragédia!
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