15 de setembro de 2012
As
manifestações voltaram às páginas dos jornais e aos noticiários das rádios e
das televisões. De forma abreviada e depreciativa um jornal perguntava-se,
ontem ou hoje, se as “manifs” tinham voltado para ficar. Até há pouco tempo acreditei,
e acredito, que muita coisa é escrita por simples ignorância. Exceto quando é o
senhor Pulido Valente a escrever, do alto da sua cátedra, empunhando a sua
caneta Montblanc que, se calhar, também foi o contribuinte pobre a pagar. Ou do
seu canto no Gambrinus, com uma garrafa de uisque de 20 anos a decorar-lhe a
mesa, enquanto a cozinha lhe apronta o bife, convenientemente inscrito na lista
com um condizente e estapafúrdio nome francês.
Hoje
acredito também que a par da ignorância está a má fé, o propósito ilícito, o
desígnio cavernoso, cada vez mais a intenção criminosa. Cada vez mais também,
somos governados por uma ditadura feroz que obedece a ordens da alta finança
externa, porque a interna não ultrapassa, a esse nível, a dimensão dos trocos.
Desde a revolução dos cravos – como se alguma vez em algum lugar uma revolução
se fizesse, e triunfasse, empunhando flores! – que a degradação e o descaminho
têm sido progressivos. E a desgraça acentuou-se a partir do consulado do senhor
Silva que, da sua ignorada freguesia algarvia, resolveu aproveitar um fim de
semana para ir fazer a rodagem de um automóvel novinho em folha, adquirido com
uma entrada de alguns trinta por cento e de talvez quatro dúzias de prestações
mensais.
Vimos
todos no que deu. O homem acabou em primeiro-ministro esbracejando por ficar na
história, mandando construir pontes, centros comerciais e exposições
internacionais onde alguns mestres de obras viraram empresários de construção
civil, edificaram condomínios fechados, enriqueceram e distribuiram prebendas e
comissões. Para confirmação do princípio de Peter acabou em Belém, dizendo hoje
uma coisa e amanhã outra, sem habilidade, sem sentido e sem vergonha. E tendo
por futuro uma reforma de merda que, segundo o próprio, lhe não dará para pagar
as despesas e lá terá de ser o zé povinho a pagar-lhas e a fornecer-lhe
gabinete, automóvel, secretária, motorista e esquife coberto pela bandeira
nacional, quando chegar a altura.
Por
tudo isso e pela enciclopédia de trafulhices que continua por escrever, 15 de
setembro é uma data, muito mais do que uma manifestação. É um marco porque,
segundo os jornais, perto de um milhão de pessoas terá saído à rua por esse
país fora. De forma espontânea, sem o enquadramento de partidos políticos, de
sindicatos ou de grémios patronais. Uma manifestação não é nada por si só. O
milhão na rua é uma réstea de esperança, há que fazê-lo crescer para dois,
quatro, seis milhões. A esperança vem-nos da única força que nos resta: a de
sairmos à rua de peito aberto e de aí nos mantermos até que o regime mude.
Porque o problema não é de mudança de governo, com o que apenas se tem
conseguido um governo ainda pior. E que apregoa, como este, as vantagens dos
empréstimos mendigados a taxas de juro de agiota e sob tutela dos verdadeiros
donos da Europa.
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