Estradas de Portugal, SA
Português
que é português estudou em colégio de padres, fez a primeira comunhão,
embebedou-se muito novo, ganzou-se quase na mesma altura e foi omnisciente
quando mal lhe despontavam dois enfezados pelos de barba. Chegado aos dezoito
anos a lei considerou-o adulto, deu-lhe aquilo a que chamam a obrigação cívica
de votar e o direito, por vezes conveniente, de ser eleito. Membro de uma junta
de freguesia, de uma vereação, deputado. Ambicioso, dá o cu e oito tostões por
uns momentos de glória, pela celebridade e pela fama, sendo vizinho dos famosos
da linha, como o respeitável senhor Castelbranco ou a sua enrugada amiga Lili
Caneças. Aparecendo por breves segundos que seja num qualquer inqualificável
programa de televisão, pronunciando-se seja sobre o que for, com a convição
própria dos ignorantes e dos imbecis.
Ontem
de manhã um senhor de fato a cheirar a novo e de gravatinha ao pescoço foi a um
dos canais de televisão falar de uma empresa fictícia que dá pelo nome de
Estradas de Portugal onde, como seria de supor, tudo está bem e onde nunca se
falou de roubos, desvios ou corrupção, porque a empresa é continuamente
“escrutinada” (o termo é dele) e, sob sua palavra de honra, vai continuar a
sê-lo. A única coisa que falta é dinheiro. Para o que é essencial e
prioritário, como aumentar os vencimentos dos administradores, trocar-lhes os
automóveis de serviço, aumentar-lhes os limites dos cartões de crédito,
inscrevê-los em congressos internacionais a realizar em países que tenham
estradas que levem a estâncias de veraneio. E para o que é acessório, como a
construção de mais duas pontes sobre o Tejo, quatro sobre o Douro (além
daquelas que se propõe erigir o bacano ainda presidente da Câmara de Gaia) e
mais duas auto estradas que liguem Lisboa ao Porto.
O
mesmo senhor apenas tem dúvidas sobre quem deve pagar tão patrióticos
investimentos para o futuro do país e para a independência nacional: se o
contribuinte, se o utilizador. O que me clarifica uma ignorância antiga, que
julguei contribuintes todos os utilizadores e todos os contribuintes potenciais
utilizadores. E adianta as razões! Tudo porque a geração dos nossos pais
(cabrões!) não deixou dinheiro para investir e a dos nossos filhos já não pode
herdar mais encargos (mariconsos!), mesmo com a esperança matemática de vida de
100 anos. Pelo que restamos nós, os mesmos de sempre! Porque para o esclarecido
senhor, como diz a graçola brasileira, “pimenta no cu do outro é refresco no
dele”.
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