20 de julho de 2012

Estradas de Portugal, SA



Português que é português estudou em colégio de padres, fez a primeira comunhão, embebedou-se muito novo, ganzou-se quase na mesma altura e foi omnisciente quando mal lhe despontavam dois enfezados pelos de barba. Chegado aos dezoito anos a lei considerou-o adulto, deu-lhe aquilo a que chamam a obrigação cívica de votar e o direito, por vezes conveniente, de ser eleito. Membro de uma junta de freguesia, de uma vereação, deputado. Ambicioso, dá o cu e oito tostões por uns momentos de glória, pela celebridade e pela fama, sendo vizinho dos famosos da linha, como o respeitável senhor Castelbranco ou a sua enrugada amiga Lili Caneças. Aparecendo por breves segundos que seja num qualquer inqualificável programa de televisão, pronunciando-se seja sobre o que for, com a convição própria dos ignorantes e dos imbecis.

Ontem de manhã um senhor de fato a cheirar a novo e de gravatinha ao pescoço foi a um dos canais de televisão falar de uma empresa fictícia que dá pelo nome de Estradas de Portugal onde, como seria de supor, tudo está bem e onde nunca se falou de roubos, desvios ou corrupção, porque a empresa é continuamente “escrutinada” (o termo é dele) e, sob sua palavra de honra, vai continuar a sê-lo. A única coisa que falta é dinheiro. Para o que é essencial e prioritário, como aumentar os vencimentos dos administradores, trocar-lhes os automóveis de serviço, aumentar-lhes os limites dos cartões de crédito, inscrevê-los em congressos internacionais a realizar em países que tenham estradas que levem a estâncias de veraneio. E para o que é acessório, como a construção de mais duas pontes sobre o Tejo, quatro sobre o Douro (além daquelas que se propõe erigir o bacano ainda presidente da Câmara de Gaia) e mais duas auto estradas que liguem Lisboa ao Porto.

O mesmo senhor apenas tem dúvidas sobre quem deve pagar tão patrióticos investimentos para o futuro do país e para a independência nacional: se o contribuinte, se o utilizador. O que me clarifica uma ignorância antiga, que julguei contribuintes todos os utilizadores e todos os contribuintes potenciais utilizadores. E adianta as razões! Tudo porque a geração dos nossos pais (cabrões!) não deixou dinheiro para investir e a dos nossos filhos já não pode herdar mais encargos (mariconsos!), mesmo com a esperança matemática de vida de 100 anos. Pelo que restamos nós, os mesmos de sempre! Porque para o esclarecido senhor, como diz a graçola brasileira, “pimenta no cu do outro é refresco no dele”.

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