13 de maio
Por
razões pessoais passei anos a correr para Fátima, ao encontro de minha Mãe.
Acabei a gostar da pequena cidade, uma freguesia de Ourém, aspirando a ser
concelho e fonte de emprego de mais uma série de filiados partidários e de
recomendados do clero. Apesar de ser um aglomerado atípico e desordenado, a
divergir do centro geográfico que é o santuário, para o qual acaba sempre a
convergir de novo, a partir de qualquer local periférico.
Nunca
o fiz nem como crente, nem como peregrino. E dei por mim, frequentemente, no
recinto do santuário onde, como cursos de água, vão dar todos os caminhos.
Mantive sempre uma atitude de respeito como acho que deveria fazer, quando
entrei na basílica ou na nova igreja da Santíssima Trindade. A mesma atitude
que observaria se entrasse numa mesquita, numa sinagoga ou noutro local de
culto, com exclusão das seitas importadas do Brasil, que tem coisas bem
melhores para nos mandar e nos impingem amunuenses reciclados em bispos. Onde
simplesmente não entro.
Fátima
tem, a partir de hoje e até 13 de Outubro, uma atividade febril e uma economia
que quase escapa à austeridade da troica e aos disparates de Passos Coelho. Sem
diversificar nada e sempre à volta de hoteis, pensões ou casas de hóspedes,
restaurantes ou similares e lojas de vendas de artigos religiosos, imagens de
Nossa Senhora e camisolas do Benfica ou do Cristiano Ronaldo. Muito pouca coisa
de qualidade aceitável, considerando a população no seu conjunto.
Sempre
me chocou que houvesse uma passadeira com o piso em mármore, que leva da Cruz
Alta à Capelinha das Aparições e lhe dá a volta, por onde alguns crentes se
arrastam, de joelhos, no cumprimento de promessas ou na esperança vazia de
milagres. Porque de certeza nenhum Deus, nem o meu, nem o deles, alguma vez seria
capaz de aceitar dos seus seguidores qualquer gesto que pudesse
comprometer-lhes, por pouco que fosse, a dignidade e o porte vertical da
cabeça. Não se é melhor por se ser submisso, nenhum favor se deve conseguir por
se abdicar da condição humana.
Minha
Mãe, ainda criança, não esteve na Cova da Iria – como de facto se chama o local
– em 1917, mas esteve pouco depois. Calcorreando os caminhos que traziam da
histórica freguesia do Olival, numa distância de, pelo menos, 20 quilómetros.
Para encontrar um local ermo, povoado de pedras e de azinheiras, com um enorme
charco de água, rodeado por uma pequena multidão de pessoas à espera da Virgem
e do milagre. Como tudo mudou!
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