A República acaba amanhã
Sem
honra nem glória, vilipendiada e esquecida, invocada em vão, fina-se após uma
negociata, à porta fechada, entre santos e pecadores. Numa cerimónia privada,
reservada a um dos salões mais inacessíveis do município lisboeta e a um
pequeno número de convidados do senhor Silva de Boliqueime que, por razões de
segurança, sua ao que se presume, assim o determinou.
Há
pouco mais de cem anos um outro Relvas desceu algures da região de Almeirim e
da sua Casa dos Patudos para a proclamar de peito aberto e da varanda do
edifício, sem temer os seus correligionários nem tão pouco os seus adversários
políticos. Vir-se-ia a esperar quase tanto da República como se vem esperando
da Senhora de Fátima. Acendendo velas, deixando esmolas, doando joias de
família. Vãs expetativas, nenhum milagre, tão pouco uma elementar réstea de honestidade
ou mesmo qualquer remoto aroma a competência.
A
República trouxe uma confusão para resolver outra e não resolveu nada. Até que
um rural ensinando em Coimbra, carregando às costas um saco de serapilheira e
na mão um garrafão de vinho, se resolveu a descer até Lisboa, afirmou saber
muito bem aquilo que queria, proclamou-se dono da quinta e aí se manteve até
que uma cadeira de descanso o tivesse traído. Entretanto todo o tempo foi dele.
Por celibatário e desconhecendo-se-lhe filhos bastardos, um outro professor da
capital foi empurrado para a sucessão e tomou-se a sério. Muito mais nas
vaidades do que nos propósitos.
Até
que meia dúzia de militares de baixa patente, bem intencionados mas
inexperientes, se puseram a caminho do Terreiro do Paço e, sem tiros, deram por
si a ter a República nos braços sem saber sequer como alimentá-la. Mas, até
aqui, o que mais surgiram foram patriotas que se foram servindo dela. Até chegarmos
onde chegámos e prosseguirmos para onde se não sabe.
O
Presidente da República adora o povo. O governo em peso adora o povo. O
parlamento em plenário, sem ausências e sem trabalho político nas Caraíbas,
adora o povo. E os tribunais, sem esquecer o Procurador Geral da República e a
Dra. Cândida Almeida que não conhece o vocábulo corrupto, adoram o povo. Tanto
e sempre que todos, em relação ao povo, agem de modo furtivo, movem-se colados
às paredes, a coberto da noite, deslocam-se em automóveis de alta cilindrada, a
velocidades quase supersónicas, com o caminho aberto por batedores. Não prestam
contas nem pensam estar obrigados a prestá-las, confundem o que é coletivo com
o que dá jeito ser pessoal. Guardaram o
socialismo numa gaveta e vão levando a democracia a enterrar em vala comum, em
local desconhecido. E mesmo assim há quem hipocritamente afirme que este povo é
o melhor do mundo. Apenas porque se não revolta, porque não dá cabo dos cacos
que ainda restam!
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