Um país que se reduz a um palheiro
Um
país que não tem um conselho de ministros que se reuna durante vinte horas
seguidas, sem interrupções sequer para ir verter águas ou ir trincar uma bifana
e beber uma cervejola, é obviamente um país de preguiçosos. De indigentes, de
calaceiros, de mandriões e de madraços.
Um
país que não tem um conselho de ministros que se reuna às oito horas de segunda
feira para retocar o orçamento de estado até ao último momento, é obviamente um
país com um antiquado horário de trabalho de quarenta horas semanais, a exigir
reforma. Que ainda se espreguiça na cama e se esforça por remover a ramela dos
olhos, quando deveria estar entregue ao esforço de aumentar a produção e
contribuir para a subida do Sr. Américo Amorim na lista dos mais ricos da
revista Forbes.
Um
país que não encerrou escolas às centenas e que não deixou no desemprego
milhares de professores é um país que obviamente nunca foi à missa ouvir os
sermões do senhor cadeal patriarca e que nunca se preocupou com o estado social
que protege os reformados, o milhão de desempregados e a injusta clausura do
Dr. Duarte Lima, com uma pulseira eletrónica amarrada ao tornozelo.
Um
país em que os seus parlamentares temem a ignomínia de ser transportados num
Renault Clio é obviamente um país de pelintras que não sabem que a democracia
tem custos e que vestem fatos do Rosa e Teixeira, com as ceroulas encardidas
por baixo, ignorando o que significa a dignidade dos cargos e a justiça do
congelamento de salários e do confisco dos subsídios.
Um
país que não trata os seus ministros familiarmente pelo nome próprio é um país
que obviamente os não merece e não pode aspirar a outras intimidades nem, tão
pouco, a ter um Magalhães em casa, com a eletricidade cortada e uma folha de
cálculo que não serve para projetar o futuro, desde D. Afonso Henriques,
saltando o domínio dos Filipes e outros pormenores de que apenas o Sr. Aquilino
Ribeiro sabia.
Um
país que não tenha o melhor povo do mundo é um país sem auto-estima que não
merece o seu ministro das finanças nem a sua voz de cobrador do fraque, quando
um orçamento estropiado é parido à força no exato dia em que faz 72 anos que
foi lançado O grande ditador, de Charles Chaplin, vulgo Charlot.
Um
país destes não existe, não é sequer um sítio que mereça uma linha da ironia do
Sr. Eça de Queirós. Que se pode dedicar, por inteiro, ao cozido à portuguesa, à
mesa do palheiro do Sr. José Estevão, na Costa Nova.
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