101 anos minha Mãe
Não
é que me tivesse esquecido, porque a tua memória me acompanha em cada doloroso
passo deste resto de caminho que me falta percorrer. Mas apenas hoje assinalo
os 101 anos passados sobre a data do teu nascimento e mais sentidamente ainda
te choro a ausência. Tantos anos levei a entender a adoração com que falavas da
tua mãe, para lá de toda a infância que não tiveste, de toda a juventude que te
roubaram, de toda a vida que enterraste no trabalho sem proveito. E foi preciso
que me deixasses só, sem vida, sem carinhos à volta. Foi preciso que povoasses
todo o imenso deserto que me rodeia, que revolvesses toda a terra que me espera
os despojos inúteis e sem préstimo.
De
há cinco anos a esta parte os minutos que passam fazem muito menos sentido,
contigo ausente. Não fazem mesmo sentido nenhum. Nem os minutos, nem as horas,
nem nada! Chorar-te, minha Mãe, não é destino. Mas é revolta, por não estares!
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