Bem ida Heil Merkel
Mal
vinda a esta antiga república das bananas, anexada por V. Exa. sem o esforço
que Hitler teve de realizar em 1939 para fazer o mesmo à Polónia. Ele teve de o
fazer pela calada da noite, de surpresa, sob um céu sem estrelas. A senhora não
teve que fazer mais do que emprestar algum do dinheiro ganho nas transações
connosco, submetendo-nos às regras que achou convenientes e fixando as taxas de
juro calculadas pelos judeus que escaparam ao exterminio do III Reich.
A
senhora não gosta de Portugal e há mais gente que não. E um senhor chamado Eça
de Queirós ainda gostou menos do que todos juntos, e teve a lucidez de o dizer
abertamente e de um modo tão real e tão irónico que se mantém atual e continua
a fazer rir todo o mundo, incluindo os seus restos mortais. Excluindo aquela
coisa do regicídio de 1908, em que dois energúmenos logo linchados no local,
assaninaram o rei e o princípe herdeiro somos, apesar de tudo e excluindo o
régulo da Madeira, um povo de brandos costumes, sempre prontos para os copos.
E
tanto assim é que não há memória de ações violentas nem represália fosse do que
fosse, nem no futebol. O árbitro escamoteia descaradamente uma penalidade e a
gente leva as mãos à cabeça, invoca Nossa Senhora de Fátima e quando muito
insulta os ascendentes e a mulher do homem do apito. Depois ocupa a semana com
especialistas e peritos a discutir o assunto e o sexo dos anjos nas televisões,
até que chegue o jogo seguinte e a cena se possa repetir. E se,
comprovadamente, o presidente de alguma corporação desvia para proveito próprio
alguns míseros milhões de euros, o país demora dez anos a condená-lo,
permite-lhe disfarçadamente a fuga para o estrangeiro e depois ocupa-se com a
instrução, inútil e interminável, de um processo de extradição.
Não
tem V. Exa. que temer, pode fazer a pé e sem segurança todos os poucos
percursos que a agenda da visita inclui. O povo é sereno e cumulativamente
parvo. Se lhes cuspir numa face eles, como Cristo, porão a jeito a outra e
agitarão bandeirinhas dos nossos dois países, fornecidas gratuitamente por uma
câmara de comércio conjunta. E acharão que os submarinos são caros mas que
ficam bem em frente ao cais das colunas, mesmo que tenham agonios à saída da
barra, a caminho das Berlengas.
O
espaço aéreo estará fechado, não fosse acidentalmente cair na altura da chegada
ou da partida de V. Exa. algum meteorito ou porcaria parecida. E as gaivotas
foram proibidas de voar a baixa altitude e para cá de Alcochete, havendo o
permanente restolho de voluntários a enxotá-las para o Samoco. A chegada está
prevista para o meio dia? As ruas estarão fechadas ao trânsito e à circulação
de pessoas e outros animais a partir das sete. A partida de regresso a Berlim
está agendada para as dezassete? Não se preocupe, continuará tudo fechado e os
infratores terão sido encarcerados em celas de alta segurança, depois de se
lhes ter acalmado a excitação à força do cacetete. Os submarinos que ainda
havemos de pagar a V. Exa., com juros e com língua de palmo, patrulharão o rio
Tejo e ostentarão as bandeiras dos dois países, com o ministro da defesa
perfilado na ponte de comando. A navegação foi proíbida, os cacilheiros terão
de utilizar a ponte 25 de Abril e as taínhas e outros peixes terão de manter-se
a montante da ponte Vasco da Gama, exceto os que forem necessários para a
confeção do almoço de V. Exa.
Sabemos
que V. Exa. se encontrará com o presidente da república, que familiarmente
tratamos por senhor silva. Não se preocupe, nunca estarão a sós porque o senhor
não tem a desdita de falar alemão e a senhora não percebe algarvio de
Boliqueime, um dialeto regional utilizado para pedir fiado e para cantar o tia
Anica de Loulé. Além disso todos os aposentos foram convenientemente revistados
e o homem absolutamente desarmado, até o corta-unhas se lhe tirou do bolso do
casado e se lhe escondeu a lima de unhas que tinha no copo das esferográficas.
Terá
ainda um encontro com o nosso plumitivo primeiro-ministro, que V. Exa. já
conhece e que sabe inofensivo para com quem tem algum dinheiro para emprestar,
seja a que preço for. Há uma semana que ele faz perguntas ao seu ministro
adjunto e que se urina nas calças com receio de que algo possa desagradar a V.
Exa. De resto está pronto para tudo, desde reduzir salários, eliminar
benefícios sociais, fazer crescer a taxa de desemprego e aumentar os impostos.
Ou implementar outras medidas que V. Exa. entenda que possam contribuir para a
redução do nosso défice orçamental e para a sua felicidade pessoal.
Não
verá pessoas mas elas estarão a aclamá-la entusiasticamente do outro lado do
rio, sob o olhar vigilante e democrático da polícia de choque. Dois polícias
por cada manifestante de idade superior a 50 anos, três se a idade do dito for
inferior. No caminho que V. Exa. percorrerá haverá estabelecimentos encerrados
por decisão própria e por razões de segurança das pessoas que os frequentam.
Embora tivessemos informado essa gentinha que V. Exa. vinha por bem, a sua
quadrilha não faria assaltos e tinha concordado em entrar desarmada na cidade,
deixando as armas penduradas assim que pusesse pé em terra.
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