30 de outubro de 2012

Orçamento para 2013


O circo desceu à cidade, instalou-se na arena de São Bento e trouxe consigo o seu tropel de bobos, fantoches e palhaços. Sábio é o povo envelhecido e analfabeto que ainda sobrevive na freguesia onde minha Mãe repousa para sempre. Que há dezenas de anos repete de forma simples e linear que quem não presta vai para Lisboa e para a política. E, acrescento eu, uma vez em Lisboa e na política passa a prestar ainda muito menos. Mesmo enriquecendo ilicitamente com as negociatas que a atividade promove e facilita.

Por simples acidente assisto a parte da discussão do Orçamento para 2013. Em que nem uma palavra que fosse foi dita sobre o assunto. A oposição acusa a maioria de inação, o primeiro-ministro de entrar mudo e sair calado nos conselhos europeus e de estar em representação dos interesses da chanceler alemã. O primeiro-ministro intervem, diz ele, em defesa da sua honra. Provavelmente porque não é mudo e seguramente porque pensa que não é surdo. Lava-se roupa suja, quando o mercado está cheio de máquinas de lavar e os lavadouros públicos há muito ao abandono. Molhada, pendura-se nas costas das cadeiras. Não terá tempo para secar e ninguém a passará a ferro. Os senhores deputados, com o devido respeito, não servem nem para lavadeiras, uma atividade que o tempo tem feito cair no esquecimento. Os senhores deputados não servem mesmo para nada, não representam ninguém, não fazem a mínima ideia do que seja serviço público. Muito menos competência, muito menos honestidade. Os senhores deputados são treinadores de bancada que não sabem as regras do jogo mas que crucificam o árbitro e falam de cátedra.


Fala-se de estado social sem se saber o que se diz e menos ainda o que isso é, porque não é coisa que lhes diga respeito. Não têm que se preocupar nem com as taxas moderadoras nem com o médico de família. Como na televisão se fala em serviço público sem que alguém, alguma vez, o tivesse definido ou fosse capaz de o fazer. Embora ache que o mesmo pode ser prestado por qualquer canal privado, desde que se lhe pague para isso. E se mantenha a transmissão pública do futebol, uma atividade transparente e inatacável, como monopólio exclusivo do senhor Joaquim Oliveira. Como nos Dez Mandamentos, invoca-se o Santo nome de Deus em vão, o que é uma vergonha e um pecado mortal. Espera-se que sejam rapidamente encaminhados para o inferno, onde as chamas alterosas os devem devorar, sem demora para defender o ambiente, e sem a intervenção dos bombeiros. A hipocrisia é maior do que o montante da dívida, a mentira maior do que a alarve dimensão do ministério da economia. Invocam-se números, alinham-se milhares de milhões que nem os 230 deputados entendem. Nenhum deles sabe a tabuada, todos contam às escondidas pelos dedos, lenta e desajeitadamente. O único que sabe utilizar um computador e uma folha de cálculo chegou a ministro de estado e das finanças. E ambiciona, com o traquejo, ser eleito para Belém, abrir uma página no Facebook e governar o país a partir de um “hot spot” numa qualquer área de serviço. Ninguém do povo acha que os deputados o representam, apenas estes se arrogam essa condição. Mas nenhum representa ninguém, nenhum defende outros interesses que não sejam os seus. Nenhum visa o bem comum mas apenas o seu enriquecimento ilícito que, obviamente, não é criminalizado.

Dizia Eça que o país estava perdido, com uma visão antecipada superior a 100 anos. Porque o país continua perdido. Melhor dito, ainda mais perdido. Porque se não alinham ideias, exibem-se fatos e gravatas. Não se analisam propostas, insulta-se o adversário. O parlamento, na sua pretensão de pertencer a um mundo desenvolvido, não tardará a ver os seus deputados engalfinhados, disputando a soco e a pontapé aquilo que não é capaz de discutir de outra maneira. Não importa que os senhores deputados aparentem ter cabeças, mesmo parecendo abóboras. Porque, ao contrário destas, nem pevides alojam. E a sua cotação nem sequer subirá perante a eminência do 31 de outubro e do dia das bruxas.

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