Orçamento para 2013
O
circo desceu à cidade, instalou-se na arena de São Bento e trouxe consigo o seu
tropel de bobos, fantoches e palhaços. Sábio é o povo envelhecido e analfabeto
que ainda sobrevive na freguesia onde minha Mãe repousa para sempre. Que há
dezenas de anos repete de forma simples e linear que quem não presta vai para
Lisboa e para a política. E, acrescento eu, uma vez em Lisboa e na política
passa a prestar ainda muito menos. Mesmo enriquecendo ilicitamente com as
negociatas que a atividade promove e facilita.
Por
simples acidente assisto a parte da discussão do Orçamento para 2013. Em que
nem uma palavra que fosse foi dita sobre o assunto. A oposição acusa a maioria
de inação, o primeiro-ministro de entrar mudo e sair calado nos conselhos europeus
e de estar em representação dos interesses da chanceler alemã. O
primeiro-ministro intervem, diz ele, em defesa da sua honra. Provavelmente
porque não é mudo e seguramente porque pensa que não é surdo. Lava-se roupa
suja, quando o mercado está cheio de máquinas de lavar e os lavadouros públicos
há muito ao abandono. Molhada, pendura-se nas costas das cadeiras. Não terá
tempo para secar e ninguém a passará a ferro. Os senhores deputados, com o
devido respeito, não servem nem para lavadeiras, uma atividade que o tempo tem
feito cair no esquecimento. Os senhores deputados não servem mesmo para nada,
não representam ninguém, não fazem a mínima ideia do que seja serviço público.
Muito menos competência, muito menos honestidade. Os senhores deputados são treinadores
de bancada que não sabem as regras do jogo mas que crucificam o árbitro e falam
de cátedra.
Fala-se
de estado social sem se saber o que se diz e menos ainda o que isso é, porque
não é coisa que lhes diga respeito. Não têm que se preocupar nem com as taxas
moderadoras nem com o médico de família. Como na televisão se fala em serviço
público sem que alguém, alguma vez, o tivesse definido ou fosse capaz de o
fazer. Embora ache que o mesmo pode ser prestado por qualquer canal privado,
desde que se lhe pague para isso. E se mantenha a transmissão pública do
futebol, uma atividade transparente e inatacável, como monopólio exclusivo do
senhor Joaquim Oliveira. Como nos Dez Mandamentos, invoca-se o Santo nome de
Deus em vão, o que é uma vergonha e um pecado mortal. Espera-se que sejam
rapidamente encaminhados para o inferno, onde as chamas alterosas os devem
devorar, sem demora para defender o ambiente, e sem a intervenção dos
bombeiros. A hipocrisia é maior do que o montante da dívida, a mentira maior do
que a alarve dimensão do ministério da economia. Invocam-se números, alinham-se
milhares de milhões que nem os 230 deputados entendem. Nenhum deles sabe a
tabuada, todos contam às escondidas pelos dedos, lenta e desajeitadamente. O
único que sabe utilizar um computador e uma folha de cálculo chegou a ministro
de estado e das finanças. E ambiciona, com o traquejo, ser eleito para Belém,
abrir uma página no Facebook e governar o país a partir de um “hot spot” numa
qualquer área de serviço. Ninguém do povo acha que os deputados o representam,
apenas estes se arrogam essa condição. Mas nenhum representa ninguém, nenhum
defende outros interesses que não sejam os seus. Nenhum visa o bem comum mas
apenas o seu enriquecimento ilícito que, obviamente, não é criminalizado.
Dizia
Eça que o país estava perdido, com uma visão antecipada superior a 100 anos.
Porque o país continua perdido. Melhor dito, ainda mais perdido. Porque se não
alinham ideias, exibem-se fatos e gravatas. Não se analisam propostas, insulta-se
o adversário. O parlamento, na sua pretensão de pertencer a um mundo
desenvolvido, não tardará a ver os seus deputados engalfinhados, disputando a
soco e a pontapé aquilo que não é capaz de discutir de outra maneira. Não
importa que os senhores deputados aparentem ter cabeças, mesmo parecendo
abóboras. Porque, ao contrário destas, nem pevides alojam. E a sua cotação nem
sequer subirá perante a eminência do 31 de outubro e do dia das bruxas.
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