Promiscuidades
Sou
pessoalmente avesso a todo o tipo de promiscuidades que, como se sabe, são a
imagem de marca do país. Na política começa na Presidência da República,
continua no governo, segue no parlamento, estende-se à mais recôndita junta de
freguesia entre o nordeste transmontado e o sudoeste algarvio. E ao processo
devem associar-se, com honrosas exceções que nem importa mencionar, institutos
públicos, fundações, entidades reguladoras, empresas municipais e por aí fora.
Uma
das promiscuidades mais relevantes será a da política com o futebol. O
presidente do Benfica, um entendido em matérias de gestão e enriquecimento, por
exemplo, enaltece a importância económica daquilo a que chama a “indústria” do
futebol. Sabendo-se que a atividade não produz bens essenciais, sempre foi
desenvolvida por instituições, vulgo clubes, mais do que tecnicamente falidos e
tão carregados de calotes como o país. Apesar disso nada lhes acontece e
político que se preze dá tudo e mais oito tostões para ser visto no camarote da
presidência dos estádios.
No
seguimento disto um deputado, desinteressadamente ao serviço do país, perdendo
dinheiro e excedendo-se nas peixeiradas para conseguir lugar elegível nas
listas, frequentemente licenciado em direito, por equivalência ou em dia
feriado, falta às sessões do parlamento para defender um qualquer arguido no
processo do Apito Dourado, se ainda os houver. Porque, como assegura a Dra.
Cândida Almeida, em Portugal não há nem corruptos nem corrupção. Apenas
ameaças!
Assim
sendo não compreendo, nem aceito, que um deputado da província, beneficiando de
ajudas de custo miseráveis, chegue apressadamente a São Bento na segunda feira
à tarde, participe em programas desportivos para linchar os árbitros à terça,
trate de negociatas à quarta, escreva para um jornal à quinta e tenha de partir
apressadamente para o fim de semana na sexta feira depois do almoço. E nos dias
que ainda sobram possa, de forma patriótica, devotar-se ao interesse público,
ao desenvolvimento do país e ao enriquecimento, mesmo ilícito, porque
prudentemente sucessivas maiorias têm impedido que o mesmo seja criminalmente penalizado. Não vá o diabo
tecê-las: o que não seria de alguns detidos no domicílio, com pulseira
eletrónica e garantidamente inocentes e de mãos limpas, depois da prescrição de
todos os crimes de que são vilmente suspeitos...
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial