16 de dezembro de 2012

Entre as margens


Entre as margens todas as águas são rios que procuram o mar que lhes foge. E bem elas sabem, ao contrário do sol que nasce, que o mar se denuncia quando pela tarde esconde no regaço o sol que se põe. Nunca as águas correm para a montanha que as pariu e, mesmo que se enganem no trajeto, podem correr para sul ou para norte, sem o auxílio de bússolas e sem erros de paralaxe. Mas regressam sempre ao rumo certo, orientadas pela fome impaciente das gaivotas e pelo rasto de fumo que deixam os barcos que saiem dos portos e se perdem para lá do horizonte.


Não é fácil ser água doce e procurar tranquilamente o sal apetitoso que lhe falta e que mora nos oceanos que se espraiam para lá de todas as altitudes. Que o sal é como este ar suave que se respira à sombra dos pinheiros que se estendem à beira mar, cheirando a resina e a maresia. Nada é tão urgente como chegar ao mar revolto que nos acolhe, atirando a espuma das ondas para o céu baixo onde, assustadas, esvoaçam medrosas as gaivotas e se limita a dimensão da esperança. Um mesmo mar imenso e sem calemas fica ainda a ocidente, a sul do equador. E vem morrer na praia bordada de casuarinas com as copas acenando um adeus carinhoso ao horizonte que se curva no infinito.

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