Entre as margens
Entre
as margens todas as águas são rios que procuram o mar que lhes foge. E bem elas
sabem, ao contrário do sol que nasce, que o mar se denuncia quando pela tarde
esconde no regaço o sol que se põe. Nunca as águas correm para a montanha que
as pariu e, mesmo que se enganem no trajeto, podem correr para sul ou para
norte, sem o auxílio de bússolas e sem erros de paralaxe. Mas regressam sempre
ao rumo certo, orientadas pela fome impaciente das gaivotas e pelo rasto de
fumo que deixam os barcos que saiem dos portos e se perdem para lá do
horizonte.
Não
é fácil ser água doce e procurar tranquilamente o sal apetitoso que lhe falta e
que mora nos oceanos que se espraiam para lá de todas as altitudes. Que o sal é
como este ar suave que se respira à sombra dos pinheiros que se estendem à
beira mar, cheirando a resina e a maresia. Nada é tão urgente como chegar ao
mar revolto que nos acolhe, atirando a espuma das ondas para o céu baixo onde,
assustadas, esvoaçam medrosas as gaivotas e se limita a dimensão da esperança.
Um mesmo mar imenso e sem calemas fica ainda a ocidente, a sul do equador. E
vem morrer na praia bordada de casuarinas com as copas acenando um adeus
carinhoso ao horizonte que se curva no infinito.
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