4 de dezembro de 2012

Re-toma


Retoma é um termo científico só utilizado com propriedade pelos economistas e pelo senhor silva. Para o compreender não basta saber-se ler, ter frequentado um curso de cristandade ou ter assistido a um jogo do Benfica no terceiro anel do defunto estádio da luz, mesmo que o resultado tenha sido favorável à equipa visitante. É preciso, no mínimo, ser-se politólogo (que eu confesso não saber o que é), cientista político (que eu volto a confessar também não saber o que é), analista político, comentador económico, Camilo Lourenço ou professor Marcelo.


A ortografia, utilizando o tracinho (porque traço era a Marlyn Monroe e essa já partiu há cinquenta anos), creio que decorre do propalado acordo ortográfico que o poeta que dirige o centro comercial de belém tem permanentemente na mesinha de cabeceira, ao lado do velho testamento e da imagem da irmã Lúcia. Antigamente um conhecido linguista da época, que modulava bonecos em barro nas Caldas da Rainha (não são esses em que estão a pensar, mentes perturbadas e perversas), chamado Bordallo Pinheiro, escrevia-o sempre sem tracinho e sem o prefixo (que toda a gente sabe o que é desde que aufira cem euros do rendimento social de inserção; tão bonito nome para tão curto dinheiro).

Mas a re-toma explodiu ontem, segunda feira, nos noticiários de tudo aquilo a que chamam orgão de comunicação social, incluindo o Borda d´’agua e o Seringador, que também trazem as fases da lua e os horários das marés na praia de Carcavelos. E o ministro Álvaro não deve tardar a aparecer perante as câmaras, com o entusiasmo histérico do fantasminha das finanças, apregoando a salvação do país, a beatificação do condestável e o investimento estrangeiro em mais duas lojas de chineses no Martim Moniz.

O país estar salvo significa que a magra pensão do senhor silva não será reduzida, nem tão pouco congelada, e há de dar para pagar as despesas domésticas, a mulher a dias e as portagens até ao casebre da aldeia da Coelha, para ir passar um fim de semana ou outro. E que os senhores Américo Amorim, Soares dos Santos e Belmiro de Azevedo não correm o risco de cair na pobreza, como sensata e justificadamente temiam. Pelo contrário, os seus nomes hão de subir na relação dos mais ricos do mundo (empreendedores é hoje mais sonante e mais politicamente correto), periodicamente publicada pela revista americana Forbes cujo diretor pensa, depois de consultados atlas atualizados, que Trás-os-Montes fica algures na península itálica.

E tanto assim é que nunca é demais repetir a importante notícia que ontem encheu os noticiários durante todo o dia, relegando a bancarrota para a Grécia e a prisão domiciliária para o Dr. Duarte Lima. Os combustíveis, cujo preço hoje varia em função das cotações da cortiça e das plantações de chaparros no Alentejo, registaram a maior descida do ano, e já vamos em dezembro. O quê, desceram oitenta, cinquenta, vinte ou mesmo dez cêntimos por litro? Não, nada disso. Desceram 2 (digo bem e por extenso: dois) cêntimos no preço a que se vão vendendo, à volta do euro e meio!

O país re-toma o ânimo e a alegria. Para o reveillon! E o senhor Manuel Sebastião, da entidade reguladora independente (tão independente que foi o governo a nomeá-lo), tem novo mandato assegurado. Pela certa!

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