Natal para os meninos de África
Para os meninos de África não há pinheiros nem caruma espalhada pelo chão, o sol brilha sempre – porque em África o mar e o sol são de graça! - e os dias são iguais às noites. Em África, branco ou preto são apenas a cor da epiderme e os meninos ainda jogam à bola com uma bola de trapos, têm um riso franco e estridente e os dentes muito brancos, sem o excesso civilizado de açúcares e de cáries. Os meninos de África andam descalços, dão topadas nas pedras dos caminhos, perdem-se no meio dos capinzais, tomam banho no rio e secam-se nas margens, à sombra de árvores de folha perene, enquanto brincam as brincadeiras deles.
O
seu horizonte vai até onde o seu olhar alcança, como a miséria desumana em que
crescem e a fome de que se alimentam. Procurando nos sacos do lixo deixados na
beira das ruas, os restos rejeitados por estômagos fartos de kamanga e de
petróleo. Os meninos de África são universais, na ignorância a que os condenam
e na fome de que apenas os salvam as intenções e os decretos. E ainda na
saudável ingenuidade de se entregarem sem condições e sem competição por
rótulos inventados por quem os condena a um destino fatalista de barriga vazia
e pé descalço.
Os
meninos de África não conhecem essa palavra Natal, nunca ouviram falar da
Lapónia, não sabem sequer que rena é bicho, nem que o Pai Natal viaja de trenó
a distribuir prendas, descendo pelas chaminés. Para eles nem o domingo é dia de
descanso, é só mais um dia de fome, com a esperança ausente, e a brincadeira
desabrida dos simples, dos ingénuos, dos que não têm maldade nem no brilho do
olhar nem na pureza imaculada de corações pequeninos e solidários. Os meninos
de África não sabem o que são prendas, o que são brinquedos, o que é coração.
A
sua neve não cai nos cumes das montanhas nos dias frios de inverno. A sua neve
cai com um tempo tropical e uma temperatura superior a 30 graus, os corpos
pingando de suor. A sua árvore de Natal é um imbondeiro gigante, emergindo
grandioso e imponente no meio da savana, com zebras, girafas, palancas e outros
bichos dispersos na paisagem. E reunindo em volta todos os muitos meninos, de
olhar brilhante e pés descalços. As mukuas são bolas de cristal penduradas dos
ramos, faiscando à luz das estrelas. Que se colhem e se saboreiam quando se
pode e se lhes chega.
Natal
não era árvore, prenda, brinquedo, doces, centro comercial, alegria breve. Natal
era um pão para cada menino, uma água boa para beber. Era uma roupa simples, um
sapato, uma escola, um sistema de saúde, cuidados de higiene, uma palavra
meiga, um carinho. Um Deus. Um Deus ominisciente, um Deus omnipresente. Porque todos
os meninos do mundo são filhos de Deus!
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