Quando saí no Huambo
Não sei mais quando fui em
Luanda, se era chuva, se era frio, sábado ou quarta, sei lá. Nem como que fui,
uma maleta com as imbambas todas lá dentro, se fui na boleia ou no maximbombo,
sei lá. Boleia não sei, quem que ia me levar então? No avião é que não, nunca
que lhe entrei lá dentro, só ver no campo de aviação quando calha que ele chega
ou que vai-se embora, com as pessoas dele todas lá dentro. Ainda mais, suco
iangue, que céu é para passarinho, catuiti e saconjuele, às vezes gafanhoto
quando vem, salalé pouco, quando a chuva adianta cair na vontade dela, o sol
quase para ir embora.
Acho mesmo que fui no maximbombo,
mas se foi até que comprei bilhete. Tempo que passou na viagem já que me
esqueci, até a hora que chegámos lá também. Se era de dia, se era de noite, não
sei mais. Mas podia me lembrar, chegar à noite, a fome na barriga, a cidade com
as luzes todas acesas, os carros no caminho deles. O maximbombo a andar com
devagarinho, no meio da confusão, só as motorizadas a gritar a pressa delas,
nome que é NSU parece que sim. Nem de dia que me lembro, a cidade grande, mama
ietu, as ruas com os buracos todos tapados com o alcatrão em cima deles.
Só que me lembro de ir à toa,
os olhos espantados de olhar os saparalos todos, tantos, as pessoas a entrar e
a sair, brancos com pressa, os patrícios também, as camisas deles lavadas. E
fui. Os sinaleiros com os capacetes deles, lá em cima daquilo, eles que mandam
os carros para parar, depois para andarem na vida deles. Eu até que tinha medo
ali, ainda que iam me atropelar, sei lá como. Até que cheguei na baixa, nossa,
tantos carros na confusão. Assim no canto um saparalo mais maior, o loja no
chão com os armários cheios dos bolos, a luz acesa mesmo que é de dia, nome que
é polo norte ou café gelo, sei lá, ouço lhes falar os brancos que passam na rua
para ir lá dentro tomar café. Talvez até beber cerveja, pode ser. Fico a pensar
na minha cabeça que saiu no mato, se em Luanda vende caxipembe. E se vende
aonde, pópilas?
Para ajuda, se necessário:
Suco iangue – meu Deus.
Catuiti – pequena ave,
também conhecida por peito celeste.
Saconjuele – ave de porte
semelhante ao melro ou ligeiramente maior.
Mama ietu – nossa mãe.
Saparalo – edifício de
primeiro andar ou mais alto.
Caxipembe – aguardente de
fabrico artesanal.
Pópilas – interjeição de
espanto, impaciência, desagrado.
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